segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Quão grande é seu Deus?
O tamanho de algo é determinado por unidades de medida, e essas variam dependendo do objeto a ser medido. O ouro é medido em onças ou gramas; o carvão em toneladas. O óleo cru é embarcado em termos de barris; a gasolina refinada é vendida em litros ou galões. O tamanho de uma caixa é medido por seu comprimento x altura x largura, em centímetros ou polegadas, mas para atapetar um quarto requerem-se jardas ou metros. Jardas não se prestam para dar a distância entre Nova Iorque e Nairóbi; usamos para isso milhas ou quilômetros. Mas, distâncias interplanetárias requerem anos-luz, sendo um ano-luz igual à distância que a luz percorre num ano à velocidade de 186.000 milhas (300.000km) por segundo.
Mas quão grande é seu Deus? É Ele tão distante, tão infinito que o tempo e o espaço nada Lhe significam? É Ele tão transcendente que podemos reconhecê-Lo como o fundamento da moralidade ou a causa primária do Universo, deixando-o então solitário com Sua grandeza, para continuarmos vivendo como se Sua existência ou mandamentos não nos importassem? Ou está Ele tão próximo, tão imanente e tão envolvido na vida e em seus miríades de movimentos, que vive naquela árvore ou é achado nalguma pedra ou é parte de tudo o que existe — uma espécie de perpétuo ser panteísta — a tal ponto de podermos fazê-Lo como um de nós? São esses pensamentos dignos de ponderação?
Para o salmista, a questão do tamanho de Deus era importante. “Para onde me irei do teu Espírito?”, pergunta ele. “Para onde fugirei da Tua face? Se subir ao céu, Tu aí estás; se fizer no Sheol a minha cama, eis que Tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a Tua mão me guiará e a tua destra me susterá” (Salmo 139:7-10).
Pondere nisso e você terá o conceito de infinito - não da espécie matemática onde o infinito está além de nosso alcance, mas de dinâmica espiritual, na qual Deus pode ser ao mesmo tempo imanente, transcendente e infinito, mas suficientemente amoroso para identificar-Se com os problemas humanos. Daí a admiração e alegria de Davi: Deus está no céu — onipresente, onipotente, onisciente — e todavia interessado a ponto de me suster com a sua destra.
Nessa maravilha e contentamento jaz um dos grandes desafios que um cristão enfrenta com respeito a Deus: a tentação de ver a Deus sob o prisma de nossas limitações e questionar Sua competência e poder.
Resistindo à tentação
Mas os cristãos que aceitam a Bíblia como a revelação de Deus à humanidade não estão sem amparo para resistir a tal tentação. A Bíblia fala da auto-revelação definitiva de Deus na pessoa de Jesus, em quem o finito e o infinito se fundiram. NEle o divino e o humano, o Ser supremo e Aquele que Se identificou com nossa fraqueza, se unem para mostrar que a vida pode ser vivida em íntima relação com Deus, sem diluição de Sua infinitude magnífica.
Jesus demonstrou o poder de Deus em Sua vida, morte e ressurreição. Esse poder tocou a vida de Seus discípulos e os transformou. O tímido e erradio Pedro tornou-se um poderoso pregador a partir do dia de Pentecostes. O duvidoso Tomé buscou por evidências científicas e prova sensorial, e quando o Cristo ressuscitado o confrontou, ele caiu a Seus pés em humildade, reconhecendo: “Senhor meu e Deus meu!” (João 20:28)
Mas a vacilação de Pedro e o duvidar de Tomé não são apenas deles. Cristãos de todas as épocas parecem ter dificuldade de crer em todos os aspectos da revelação de Deus, se não puderem encontrar apoio aceitável. Por exemplo, considere as palavras proféticas de Apocalipse 1:7: “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho O verá”. Alguns perguntam: Como podem todos na Terra contemplar a vinda de Jesus ao mesmo tempo, dado o fato de a Terra ser redonda? Uma indagação científica, mas que ignora o fato de que estamos aqui contemplando um evento divino, e Deus não pode ser compreendido nos termos das limitações humanas. Considere que mesmo nós, humanos, desenvolvemos a capacidade tecnológica para permitir que um único evento seja visto em todo o globo terrestre ao mesmo tempo. Não estou sugerindo que Cristo usará satélites e TV para proclamar Sua segunda vinda. Mas lembrando que se seres finitos inventaram um sistema através do qual um acontecimento na Terra pode ser visto simultaneamente por todos os seus habitantes, por que limitar o Deus infinito de fazer isso acontecer por qualquer meio de Sua própria escolha? Quão grande é seu Deus?
O poder de Deus e a criação
Uma área na qual esse problema de limitação do poder de Deus se mostra especialmente, é a da origem da Terra e da vida. Muitos cientistas afirmam que a Terra — juntamente com muitas galáxias e planetas — resultaram da explosão de uma massa de origem desconhecida, e que a vida surgiu quando as condições corretas se apresentaram. Mas a teoria da evolução não é tão segura cientificamente como muita gente pensa, e muitas obras acadêmicas têm chamado atenção para os problemas científicos na teoria da evolução.
Há uma diferença filosófica básica entre o cientista que defende a evolução e aquele que crê na criação. A ciência trata de fenômenos naturais. A teoria da evolução explica a origem deste mundo e da vida, usando leis naturais cujos efeitos podem ser observados. O problema é que há significativas lacunas que não podem ser transpostas por nenhuma lei conhecida ou fenômenos observados. Por exemplo, a velha questão: “Qual veio primeiro: a galinha ou o ovo?” Toda galinha provém do ovo, e todo ovo é posto por uma galinha. A primeira galinha ou o primeiro ovo surgindo por outros meios seria antinatural. O cientista que defende a criação percebe isso e afirma que a ciência só pode tratar de leis naturais que foram instituídas como parte de uma criação sobrenatural. Isso pode ser compreendido comparando-se a manufatura com a manutenção de um carro. As ferramentas que são adequadas para consertar um carro são impróprias em sua manufatura.
As leis científicas que bastam para compreender a operação e manutenção deste mundo, são inadequadas para explicar sua origem.
A primeira lei da termodinâmica trata da conservação da energia. Essa lei afirma que processos naturais não podem criar nem destruir a energia, mas apenas convertê-la de uma forma em outra. Isso impõe uma importante limitação à Natureza. Visto que a matéria é uma forma de energia, a Natureza não pode ser responsável pela energia total, incluindo a matéria, no Universo. Daí a necessidade do sobrenatural. Poderia esse sobrenatural ser o Deus Criador que nos é revelado mais especificamente por Jesus Cristo?
Aqueles que crêem que a Bíblia é a revelação de Deus não deviam ficar surpresos se qualquer determinação científica da idade da Terra for inconsistente com a história da criação. O ato da criação implica num acontecimento sobrenatural com a Terra plenamente desenvolvida e com habitantes no final da semana da criação. Qualquer método científico de datação da Terra envolve pressuposições de condições e de processos naturais, e não proporcionará resultados que apóiem a base sobrenatural da criação.
Visto que Deus criou este mundo de modo sobrenatural, nenhum método de datação da Terra, mesmo no tempo de Adão, teria fornecido um resultado consistente com a criação. A entrada do pecado mudou a perspectiva da humanidade e pôs limitação à compreensão humana. É aqui que a fé entra. “Pela fé entendemos que os mundos, pela palavra de Deus foram criados; de maneira que, aquilo que se vê, não foi feito do que é aparente...sem fé, é impossível agradar-Lhe, porque é necessário que, aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11:3 e 6).
Cautela necessária
O que temos visto até aqui nos adverte a sermos cautelosos em procurar, de uma perspectiva humana, colocar um limite sobre a Pessoa e o poder de Deus. Não podemos medir ou compreender Deus do ponto de vista de nossa limitação. Nem podemos apreciar plenamente o papel de Deus na Terra e em sua história, a partir da limitada perspectiva de nossa inteligência. Podemos pensar, sondar, inquirir, discutir — de fato, Deus nos encoraja a fazê-lo — mas vem o ponto quando o vasto abismo entre o finito e o infinito nos confronta. O finito não pode abarcar ou plenamente compreender o infinito; o finito só pode crer. É então que a fé nos acode. E enquanto estudamos e teorizamos, aquele que tem fé em Deus confessará humildemente que nem tudo é claro no presente. “Agora vemos por espelho, em enigma, mas, então, veremos face a face; agora conheço em parte, mas então, conhecerei como também sou conhecido” (I Coríntios 13:12)
Quão grande é seu Deus? Bastante grande para dar sentido à vida, embora não possamos compreender todos os mistérios envolvidos na vida? Ou tão pequeno que a vida se torna uma jornada tortuosa, arremessada daqui para acolá, de hesitação à dúvida, ao desespero? A escolha é sua.
E. Theodore Agard (Ph.D. pela Universidade de Toronto).
Fonte: DiálogoUniversitário
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