quinta-feira, 2 de maio de 2013

Lésbica fez o que a igreja mandou, não o que Jesus pediu



O portal UOL publicou uma entrevista com Lanna Holder e Rosania Rocha, fundadoras da igreja Comunidade Cidade de Refúgio, “uma igreja inclusiva, que recebe de portas abertas gays e lésbicas, sem julgamentos sobre suas orientações sexuais”, conforme a definição da matéria. Lanna se converteu à religião evangélica aos 21 anos e deixou de lado uma companheira. Pouco depois se casou com um pastor, teve um filho, e a religião passou a ser parte principal de sua vida. Pelas igrejas do Brasil, ela pregava sobre a “cura” a que havia sido submetida e passou a ser vista como um exemplo a ser seguido. Em 2002, ela conheceu Rosania em uma igreja evangélica em Boston, nos Estados Unidos. Rosania, que morava na cidade, onde era dirigente de louvor de uma igreja frequentada por brasileiros, era casada com um pastor, com quem teve um filho. As duas acabaram se envolvendo, deixaram os maridos e passaram a viver juntas. Confira abaixo trechos da entrevista que o Virgula Lifestyle fez por telefone com as pastoras [com meus comentários entre colchetes. – MB]:

Como foi a sua conversão e o processo para se tornar uma ex-lésbica?

Lanna Holder – Eu tinha 21 anos quando me converti à religião por achar que iria para o inferno por causa de minha orientação sexual [começo ruim: se converteu por medo, não por amor a Deus]. Eu usava drogas, era alcoólatra e quando me converti essa parte da minha vida deixou de existir [algo bom]. A religião funcionou como um processo de restauração na minha vida, mas a minha orientação sexual nunca foi alterada [a verdadeira conversão e a entrega total a Deus nos reorienta em todos os aspectos, o que não significa ausência de lutas]. Eu nunca vivenciei nenhum processo de cura, mesmo assim segui numa busca constante para deixar de ser lésbica. Eu pensava: “Deus me libertou das drogas e do alcoolismo e não consegue me libertar da homossexualidade?” Na igreja, a homoafetividade é apresentada ou como uma possessão demoníaca ou como uma doença [nem todas as igrejas encaram o assunto dessa forma]. Eu tentava lidar com as duas coisas. “Se é uma doença, Deus vai ter que curar e se eu estiver possessa de algum espírito maligno, Deus vai ter que me libertar.” Tentei por sete anos.

A religião faz uma lavagem cerebral contra a homossexualidade?
Lanna – Hoje eu cheguei à conclusão de que a religião demoniza tudo o que ela não explica e não entende [na verdade, a igreja deve “condenar” – para não usar a palavra “demonizar” – aquilo que é claramente apresentado como pecado na Bíblia e não aquilo que ela não explica ou não entende]. A homossexualidade é uma questão muito cheia de ramificações e interpretações. A própria igreja não chega a um consenso sobre o que pensa a respeito [depende da igreja; cristãos esclarecidos entendem que a Bíblia condena o estilo de vida homossexual e não o homossexual em si]. [...]

Você escondia sua verdadeira orientação sexual ou estava convicta de que havia sido realmente “curada”?

Lanna – Eu divulgava essa tal cura havia sete anos e pregava contra a homossexualidade. As pessoas me conheciam como “A missionária Lanna Holder, ex-lésbica”. Quando fui pra Boston, eu já estava conformada, achando que teria que viver minha vida toda escondendo minha verdadeira orientação sexual. Eu mentia, pois tinha certeza de que a minha orientação sexual era imutável, ao contrário do que eu fazia as pessoas acreditarem [viver de mentiras, negando o pecado, negando a luta é o caminha para a derrota; precisamos ser honestos com Deus e admitir que precisamos de ajuda e de verdadeiro arrependimento]. Fiz tudo o que a igreja mandou fazer para deixar de ser lésbica: quebra de maldição, cura interior, desligamento de alma, quebra de vínculo [em minha opinião, aqui está o problema: ela fez tudo o que a igreja mandou – rituais –, mas será que fez o que Jesus pediu? Entregou totalmente o coração a Ele concedendo-Lhe o pleno direito de transformar seus sentimentos, desejos, motivações?]. Depois de tudo, minha orientação sexual não mudou e então cheguei à conclusão de que fazia parte da minha natureza. Esconder foi a minha única opção. Fiquei casada com um homem, não porque era o que eu queria, mas porque era o imposto para que eu não fosse para o inferno. [Parece que o medo do inferno dominou a vida dela e sua religião. Uma pena. Ela diz que a homossexualidade faz parte da natureza dela. Na verdade, o pecado é que faz parte da nossa natureza caída e todos temos que lutar contra certas tendências. Não acho apropriado comparar um homossexual a um bandido, como fazem alguns religiosos. Ninguém é criminoso por ter suas lutas contra o pecado. Se fosse assim, todos seríamos criminosos. Prefiro comparar os desejos homossexuais aos desejos de um heterossexual viciado em sexo, por exemplo. Isso também não é correto e essa pessoa deverá lutar contra essa tendência – ainda mais se não for casada. Essa compulsão não faz dela um criminoso, mas também não poder ser usada como desculpa para não lutar contra. Em Cristo, há poder para vencer. Quem lê a Bíblia sabe que o mesmo Livro que condena o homossexualismo afirma que Deus ama todos os pecadores e está disposto a conceder-lhes poder para ser puros e santos. Como a Bíblia separa pecado e pecadores, os cristãos devem fazer o mesmo: amar pecadores e detestar o pecado que traz dor aos pecadores.]

Como foi o momento em que você se viu diante da paixão por uma mulher após tantos anos garantindo ser ex-lésbica?

Lanna – Nos conhecemos e no começo nos tornamos grandes amigas. Tivemos uma associação total na religião e quando chamavam a Rosania para cantar, me chamavam para pregar. A vida nos uniu. Viajamos pelos Estados Unidos juntas e eu confidenciava a ela os problemas que tinha em meu casamento, pois como o “exemplo” que eu era, não podia contar para ninguém o que eu enfrentava [é um grande erro confidenciar problemas do casamento para qualquer pessoa que seja, a menos que se trate de um profissional como um terapeuta]. Não falava sobre minha orientação sexual, mas conversávamos sobre diversas questões. Quando me dei conta, tudo o que eu fazia era pensando na Rosania. Eu queria estar ao lado dela e percebi que aquilo que eu sentia não era apenas amizade. Eu chorei muito, orei muito e perguntava a Deus quando aquilo passaria. Minha paixão por ela começou a confrontar com tudo aquilo que eu dizia ser errado em minhas pregações. [...] [Na verdade, esse é um erro que muitos heterossexuais também cometem. Quando amigos casados começam confidenciar e a manter muita proximidade, isso é um convite ao adultério. No caso de Lanna, sabedora de suas tendências homossexuais, ela deveria manter a guarda e evitar certas situações, assim como deve fazer um heterossexual. Não se trata de orientação sexual, mas de evitar o mal.]

Rosania – Muitas pessoas da igreja são hipócritas, pregam uma coisa e fazem outra. Tem gente casada que prega para multidões e sai para pegar as menininhas da cidade, tira a roupa na frente da câmera e coisas do gênero. São pessoas assim que nos massacram. Eu me sinto muito mais em paz com Deus sendo o que sou de verdade. [...] [Típica evasiva de quem se sente condenado: “Há outros que fazem coisa pior.” Evidentemente que existe isso. Existem muitos hipócritas na igreja? Sim, e sempre há lugar para mais um. Mas nosso modelo nunca deve ser as pessoas, quaisquer que sejam. Nosso modelo é Jesus e Ele nunca apoiou o estilo de vida homossexual, como também nunca apoiou o adultério e o divórcio, por exemplo.]

Rosania – Não tem como uma pessoa afirmar que uma família constituída por gays não é coisa de Deus. Somos uma família feliz que vive em harmonia. [...]

Lanna – A bíblia do gay é a mesma do hétero, a única diferença é que interpretamos diferente a questão da homossexualidade. Não somos ativistas gays, mas acreditamos na inclusão. [...] [Lanna e Rosania têm todo o direito de viver como bem entendem, pois Deus nos dotou a todos do livre-arbítrio. Mas elas – nem ninguém – não têm o direito de reinterpretar as Escrituras para acomodá-las a suas escolhas. Vários textos bíblicos muito claros condenam o estilo de vida homossexual e dizer o contrário disso é cometer uma violência ao texto sagrado. A igreja tem, sim, que ser inclusiva, como querem Lanna e Rosania, mas não para acobertar o pecado e, sim, para resgatar o pecador.]

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