segunda-feira, 1 de junho de 2009

Mordomos de Deus


Mordomia – Somos despenseiros de Deus, responsáveis a Ele pelo uso apropriado do tempo e das oportunidades, capacidades e posses, e das bênçãos da Terra e seus recursos, que Ele colocou sob o nosso cuidado. Reconhecemos o direito de propriedade da parte de Deus por meio de fiel serviço a Ele e a nossos semelhantes, e devolvendo os dízimos e dando ofertas para a proclamação de Seu evangelho e para a manutenção e o crescimento de Sua Igreja. A mordomia é um privilégio que Deus nos concede para desenvolvimento no amor e para vitória sobre o egoísmo e a cobiça. O mordomo se regozija nas bênçãos que advêm aos outros como resultado de sua fidelidade. – Crenças Fundamentais, 20.


Na Bíblia, o termo mordomo se refere a um oficial que administra, ou mesmo controla, os negócios de uma mansão. Nenhum detalhe escapa de seus olhos. Desde arrumar a mesa, preparar os alimentos, pagar as contas, cuidar dos jardins ou educar as crianças; tudo ele resolve para o seu “senhor”.

No Antigo Testamento, havia um mordomo que cuidava da casa de José (Gên. 43:19; 44:4). Abraão também dispunha de um mordomo, assim como muitos dos reis de Israel. No Novo Testamento, o termo descreve um bispo que é mordomo dos negócios de Deus (Tito 1:7).

Paulo diz que os crentes são “mordomos dos mistérios de Deus” (I Cor. 4:1; Gál. 4:2). É claro, portanto, que o conceito cristão de mordomia inclui: tempo, talentos, posses e até a própria pessoa (Luc. 12:42; Efés. 3:2). Sob esse ponto de vista, somos bons mordomos apenas se damos tudo o que temos e o que somos a Deus.

Entretanto, como a riqueza é geralmente um de nossos maiores obstáculos na mordomia, Jesus falou freqüentemente sobre nossa relação com o dinheiro. Aqui, vamos focalizar o dinheiro no sentido mais amplo: de que nossa atitude em relação à riqueza apenas ilustra nossa atitude em relação a tudo o que possamos ter como “nosso”.

Não é fácil falar de dinheiro; nem para os membros da igreja, nem para os pastores. Nosso desconforto ao tratar do assunto foi bem retratado num cartoon da revista Leadership (Liderança). Mostra um pregador atrás do púlpito e absolutamente ninguém sentado diante dele nos bancos da igreja. Ele começa seu sermão com as seguintes palavras: “Conforme anunciei na semana passada, o assunto de meu sermão hoje será: Dízimos e ofertas.”


Além da Obrigação

Freqüentemente confundimos diversas coisas com a verdadeira mordomia. O dar, simplesmente, não é mordomia. Uma pessoa pode doar com motivação correta. Outros podem doar em função de um senso de culpa, para tentar expiar seus pecados. Miquéias 6:6 e 7 contém uma condenação aos israelitas exatamente por causa dessa atitude: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite?” O profeta completa dizendo que ainda que eles doassem os próprios filhos não conseguiriam expiar o pecado que haviam cometido para conseguir suas riquezas.

Nem é preciso dizer que a autêntica mordomia deve ter uma motivação mais virtuosa do que a culpa. Só representa uma bênção para a Igreja a doação que brota de um espírito livre. “De graça recebestes, de graça dai” (Mat. 10:8).

Evidentemente que o dar por motivo de culpa ou pelo desejo de obter recompensa não vem de um espírito livre. Minha dádiva tem que ser voluntária. No momento que ela se torna compulsória, deixa de ter utilidade para a obra de Deus.

Deus não nos dá em função de culpa ou desejo de recompensa. Ao contrário, nos dá porque nos ama e tem prazer em nos atender. Ele não tem qualquer obrigação para conosco, somente compaixão e alegria desde que continuemos livres, por Seu amor.

As relações de amor não são movidas a obrigações ou recompensas em nenhuma direção. A noiva que entra na igreja e vai até o altar do seu casamento “por dever” já enterrou seu casamento, antes de começar. Da mesma forma, o marido que entrega seu salário para a família como uma “recompensa” pela boa conduta de todos os familiares, jamais será apreciado por eles.

As obrigações e recompensas fazem parte de nossos relacionamentos, sob o regime do pecado, mas não podem prover uma base eterna para o amor entre nós. Nossa vida em conjunto deve se aproximar mais de uma troca de dons do que do pagamento de dívidas ou recebimento de prêmios.

Somente quando deixo de ser agradecido pelo amor que recebo de minha família tenho que ser lembrado quanto às minhas obrigações. Essa é uma das idéias centrais dos ensinos de Jesus a respeito do reino de Deus. E era a essência da Sua teologia da expiação. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).

Por essa razão a justificação pela fé não é apenas uma doutrina sobre Deus; é também uma doutrina sobre a realidade como um todo. Tudo o que Deus criou, seja animado ou inanimado, encontra sua razão de ser como parte de um ciclo de dar e partilhar que caracteriza todo o Universo.

Histórias de Generosidade

Se há um conceito contra o qual Jesus lutou é de que a realidade é uma mera troca de recompensas e obrigações.

Na parábola conhecida como “do filho pródigo”, o irmão mais velho (que claramente representava os fariseus) fica reclamando porque não consegue entender como o pai ainda é capaz de dar mais para o caçula que manifestara um comportamento de desperdício.

Com paciência, o pai lhe explica que é correto ficar feliz quando um filho perdido é achado e que o fato de ele ter voltado para casa era o maior motivo para celebrações.

Quando Jesus permitiu à prostituta que ungisse Seus pés com perfume, os observadores ficaram com medo de que Ele ainda fosse louvá-la por esse gesto. Como resposta, Jesus simplesmente destacou para eles a profundidade daquela ação da mulher: “Ela não cessa de Me agradecer”, completou.

Jesus sabia muito bem que este mundo pecaminoso é um lugar de recompensas e obrigações. Sem isso, sem o senso do dever, a justiça pode se tornar a mais rara das virtudes. Também não é possível ter um Universo justo quando aqueles que merecem são punidos o tempo todo e os que não merecem são continuamente abençoados. Ou seja, um Universo baseado unicamente na justiça não é de todo digno de Deus nem da humanidade.

Por exemplo, quando Jesus contou a parábola dos trabalhadores que receberam o mesmo salário ao final do dia, quer tivessem trabalhado doze ou só uma hora (Mat. 20:1-16), Ele foi direto ao ponto; ou seja, mesmo quando somos tratados de acordo com o que foi prometido, ainda desejamos receber de acordo com o que as pessoas mais próximas a nós conseguiram. O senhor fora absolutamente justo, mas as pessoas que trabalharam o dia todo se consideraram injustiçadas ao se compararem com a generosidade que o senhor demonstrara para com os demais.

Esses trabalhadores, entretanto, estavam deixando de entender o mais importante: o senhor não os estava considerando como operários. Ele sabia que todos necessitavam de um dia de salário integral. Ele os pagou baseado em sua própria generosidade.


Pagamento X Dádiva

Assim como os trabalhadores, podemos estar inconformados com nossos dons. Preferimos ser recompensados pela obra que fazemos porque sentimos que podemos realizar muito mais desde que estejamos satisfeitos com o que estamos ganhando.

Não queremos que o patrão nos dê um presente no dia do pagamento da mesma forma que não desejamos que nossa obra seja um presente. O que desejamos é estar engajados em uma transação que obrigue ambas as partes a serem honestas.

Da mesma forma, pagamos nossos impostos ao governo; e não os damos. Se dependêssemos dos patrões ou dos contribuintes para dar o que eles consideram adequado, todos nós ficaríamos pobres e o governo seria destruído.

Lamentavelmente, muitos de nós que fomos ensinados a dar o dízimo, de acordo com a Bíblia, encaramos o dízimo como o pagamento de uma dívida. Mas não passa de uma grosseira distorção encarar o dízimo como um imposto divino.

De acordo com a visão bíblica, principalmente no Novo Testamento, Deus como o Criador, possui todas as coisas (incluindo o poder) de uma forma que jamais chegaremos a ter, mas Ele escolhe nos dar (ou confiar) algumas coisas a nós. Não ganhamos, por nós mesmos, o que recebemos pela Criação ou pela Redenção. Pelo contrário, é Deus quem nos dá, em confiança, aquilo que é por direito só dEle. Tudo é dádiva.


Uma jovem rica, certa vez, me contou uma história que pode ajudar a explicar o que estou pensando. O avô de Margareth havia juntado uma razoável fortuna através de sua empresa. Antes de morrer, dividiu tudo o que tinha em “pacotes” de bens a serem entregues a seus filhos e netos, quando completassem 21 anos.

Da mesma forma que aconteceu com os outros membros da família, quando Margareth completou 21 anos, a avó a convidou a ir até à mansão da família. Quando ela assentou-se para receber sua herança, a avó lhe disse: “Se seu avô pudesse ter adivinhado quem iria usar esses bens todos para ajudar e abençoar a humanidade, só teria dado a essa pessoa. Use este dinheiro com o mesmo espírito com que foi dado a você.”


Dádiva e Gratidão

Creio que o mesmo acontece conosco. Cada um de nós recebe de nosso Pai uma herança, de incalculável valor, para ser administrada com o mesmo espírito com que nos é concedida. A única resposta adequada a tal dádiva é demonstrar gratidão por ela e tratar o dom como um dom.

Exatamente isso é o que não fez o pródigo com sua herança. Pelo contrário, ele a considerou como se tivesse conseguido com seu suor e pudesse desperdiçar como bem entendesse.

Uma pessoa agradecida sempre trata o dom com o mesmo espírito com que esse dom lhe foi confiado. Quando focalizamos não em nossas obrigações para dar, mas nos dons (e no Dom) que temos recebido – dádivas preciosas amarradas com os sofrimentos do Calvário – nos entregamos a nós mesmos com gratidão e também porque isso agrada a Deus. Damos não porque seja uma obrigação ou porque esperamos qualquer recompensa, mas porque estamos agradecidos pelo dom de Deus.

Esse foi o ponto principal do sermão pregado por Paulo sobre a mordomia em II Coríntios 9:6-14. “E isto afirmo: aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.

“Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.

“Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa justiça, enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus.

“Porque o serviço desta assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos, enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós.”

E como termina Paulo esse pequeno sermão? Com as palavras: “Graças a Deus pelo Seu dom inefável!” (II Cor. 9:15).
Se percebermos nessas palavras o eco das intenções de nosso próprio coração voltado para Deus, então teremos nos tornado verdadeiros mordomos.

Nenhum comentário: