sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A fixação bíblica de José Saramago


José Saramago é o escritor português vivo mais reconhecido no mundo inteiro. Não por acaso, para isso muito contribuiu a atribuição do Prémio Nobel da literatura em 1998. Ele é considerado como o principal responsável pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa.

Para efeitos do assunto que me leva a escrever sobre Saramago, importa referir a sua posição ateísta (pelo menos em relação ao Deus 'convencional'). Ele também é assumidamente comunista (impenitente, nas palavras do ex-arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira). Há dois meses atrás, numa entrevista em que abordou assuntos políticos, referiu que 'Marx nunca teve tanta razão como hoje'. Algumas expressões suas sobre os judeus provocaram escândalo, nomeadamente quando sugeriu que 'eles não merecem a simpatia pelo sofrimento que passaram no Holocausto'.

Em 1991, aconteceu outro episódio polémico: Saramago publicou 'O Evangelho segundo Jesus Cristo', uma obra revoltante para a cultura católico-cristã da sociedade portuguesa por revelar Jesus numa vida moderna e anti-religiosa. Por pressões da Igreja Católica, o governo português não o patrocinou para um prémio internacional e, em consequência, Saramago fixou residência em Espanha.

Agora, a esposa de Saramago, Pilar del Rio, anunciou - no blogue do escritor - uma nova obra literária: Caim.

Mais uma vez, o ateu José Saramago usa-se de assuntos ou inspiração bíblicos para debitar as suas próprias filosofias sobre a vida, a existência, a divindade e a relação entre tudo. Por isso, 'é atribuída a Deus a autoria moral do crime e uma consequente redenção de Caim. Nesta obra, o escritor volta mostrar um Deus arbitrário, incoerente e tirano, que embora tenha sido criado pelo homem é causador de muitos dos seus males' - segundo a crítica literária do Diário de Notícias - não inocentemente, visão esta que o inimigo de Deus desde sempre Lhe tentou impingir.

Segundo Pilar, Saramago escreve este romance 'com a cabeça alta, que é como há que enfrentar o poder, sem medos nem respeitos excessivos'.

Em entevista ao jornal espanhol La Vanguardia, Saramago esclarece: 'Deus, o demónio, o bem, o mal, tudo isso está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventámos. Não nos damos conta que, ao termos inventado Deus, nos tornámos imediatamente escravos dele'. Ele prossegue afirmando que este livro 'não é um ajuste de contas com Deus, mas um ajuste de contas definitivo com os homens que o inventaram'.

Nessa mesma entrevista, Saramago raciocina: 'Deus não é de confiança. Que diabo de Deus é este que, para enaltecer Abel, rebaixa a Caim?'

Curiosamente, ele reconhece que o livro foi escrito 'numa espécie de transe, como nunca me tinha acontecido', e prossegue dizendo que 'a personagem de Caim era uma daquelas que habitavam há muitos anos o meu imaginário' (talvez no próximo livro vá falar-nos da sua visão sobre Nimrod, Acabe ou Herodes... Que pena que, tendo uma fixação tão grande pela Escritura, não se debruce mais sobre a sua Figura Maior...).

A esposa de Saramago termina a sua apresentação do romance 'Caim' com a seguinte expressão: 'que sorte a nossa, leitores, de ter quem nos escreva'.

Concordo com Pilar! Que sorte e privilégio ter um Deus que nos deixou escrito tão valioso e inesgotável volume como são as Sagradas Escrituras!

Entretanto, o mundo continua a enaltecer e premiar homens que se dedicam a denegrir e ofender a imagem de Deus. Em breve, ambos receberão o prémio final que as suas ações merecem.

Fonte: O Tempo Final

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