segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
De volta ao passado
Pela primeira vez após a reforma do Concílio Vaticano II, o papa Bento XVI celebrou ontem uma missa de costas aos fiéis, como no ritual pré-conciliar, embora a solenidade tenha ocorrido segundo o modelo adotado após a reunião, introduzido por Paulo VI e considerado pela Igreja como o "normal".
Bento XVI oficiou a missa na imponente Capela Sistina por ocasião da Festa do Batismo de Jesus, aproveitando o evento para batizar treze crianças, todas filhas de funcionários do Vaticano.
O papa celebrou a missa no antigo altar, junto à parede em que o italiano Michelangelo pintou o "Juízo Final", dando as costas para os fiéis e com a atenção voltada ao grande Crucifixo à sua frente.
O Bispo de Roma leu a homilia em um trono colocado à direita da parede, e não no centro da Capela.
Até o momento, para a celebração de missas na Sistina era usado um altar móvel, colocado diante do "Juízo Final" - como era feito por João Paulo II e por Bento XVI nos dois primeiros anos de seu pontificado.
O Escritório para as Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice ressaltou que o antigo altar foi usado para "não alterar a beleza e a harmonia desta jóia arquitetônica".
"Isso significa que, em alguns momentos, o papa dará as costas aos fiéis e olhará à Cruz", indicou o Vaticano, lembrando que o Missal utilizado para a liturgia foi o estabelecido após o Concílio que levou a Igreja Católica rumo ao terceiro milênio.
Assim, Bento XVI rezou a missa em italiano e seguiu o ritual introduzido por Paulo VI em 1970 - considerado a maneira "normal" de liturgia, afirmou o próprio pontífice quando permitiu a celebração da missa em latim, em julho do ano passado.
Durante a homilia, o papa disse que "no batismo, o homem recebe uma vida nova, cheia de graça, que permite que se relacione pessoalmente com o Criador para toda a eternidade".
O pontífice acrescentou que o caminho do pecado pode apagar essa nova vida e lembrou que o homem, e não os animais, está sujeito à eternidade.
"Enquanto outras criaturas não têm ligações eternas, e a morte significa o fim de sua existência na Terra, em nós o pecado pode nos tragar para sempre", afirmou o papa.
Bento XVI acrescentou que Deus estende as mãos ao homem para sua salvação, e é esse o mistério do batismo.
Seguindo a tradição, Bento XVI fez, sobre o peito das crianças, o sinal da cruz com óleo benzido, e depois molhou suas cabeças com a água benta, símbolo de purificação.
Após a missa, apareceu na janela de seu apartamento - que dá para a Praça de São Pedro - e rezou o "Angelus" junto com os milhares de pessoas que desafiaram a chuva que caía sobre Roma.
O papa pediu que vivessem o batismo de forma coerente.
A celebração da missa de costas aos fiéis, segundo observadores vaticanos, foi uma opção para dar visibilidade à decisão de oficiar o ato segundo o rito Tridentino, permitido através de um documento apresentado em julho do ano passado, e que passou a vigorar em setembro.
Bento XVI reforçou, através desse documento, que a missa em latim segundo o rito Tridentino ou de São Pio V nunca foi juridicamente suspensa e sempre foi permitida, e que nestes anos muitas pessoas e movimentos como o do arcebispo Lefebvre permaneciam ligados à própria.
Por esse motivo, há a necessidade de um regulamento mais claro para obter também "uma reconciliação interna no seio da Igreja".
O pontífice ressaltou que o "temor pelo menosprezo que possa colocar em dúvida a autoridade do Vaticano II não existe, já que o Missal de Paulo VI obviamente é, e permanece, a forma normal da liturgia, sendo o tridentino, a extraordinária".
Bento XVI também lembrou que o esplendor arquitetônico, a riqueza da liturgia e dos cantos levam os fiéis a celebrar Cristo.
Qualificada por João Paulo II como "santuário da teologia do corpo humano", a Capela Sistina é o local onde se realizam os conclaves para a escolha dos papas. EFE jl mac/db
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