sexta-feira, 31 de agosto de 2007
A Reforma (parte 1)
“A Reforma do século 16 ... despertou a Igreja de sua letargia medieval, e fê-la cônscia não só da necessidade, mas da possibilidade de renovação de sua vida” (Siegfried Schwantes, O Despontar de uma Nova Era).
Assim como ocorrera com o Judaísmo, o Cristianismo se distanciara de seu propósito original de levar homens e mulheres de todo o mundo ao conhecimento do Deus Criador. Doutrinas pagãs, a falta de acesso à Bíblia e o autoritarismo ferrenho por parte do clero acabaram implantando na mente das pessoas a idéia de um Deus intransigente e distante. Para se ter acesso a Deus, era preciso recorrer aos sacerdotes; para se obter o perdão dos pecados, era necessário fazer penitências e mesmo pagar por ele. Nada mais conveniente para o pai da mentira, cujo propósito sempre foi o de levar as pessoas ao desespero e à rejeição de Deus.
Nos séculos 17 e 18, houve pessoas (os iluministas) que, descontentes com esse sistema de coisas, acabaram por romper com a Igreja, oferecendo resistência a tudo que tivesse "sabor" religioso. A própria Bíblia passou a ser alvo da desconfiança dos intelectuais que, em lugar de Deus, passaram a cultuar a razão humana.
O Iluminismo marcou um momento decisivo para o declínio da Igreja e o crescimento do secularismo atual, assim como serviu de modelo para o liberalismo político e econômico e para a reforma humanista do mundo ocidental no século 19. A despeito de algumas importantes conquistas desse movimento político-cultural, o principal saldo, sob a ótica religiosa, foi negativo: as pessoas confundiram o cristianismo com os erros e o autoritarismo da religião dominante (católica). Se o cristianismo puro, baseado unicamente nas Escrituras Sagradas, ainda existisse (pelo menos oficialmente), não haveria por certo essa tremenda aversão por tudo que tivesse aparência de religião.
Mas houve outros que resolveram olhar por sobre o horizonte das tradições religiosas e contemplar a verdade como ela é apresentada nas Escrituras. Martinho Lutero (1483-1546) foi um desses.
Lutero era monge e professor da Universidade de Wittenberg, na Alemanha. Certo dia deparou-se com uma Bíblia acorrentada à parede do mosteiro e começou a estudá-la, tendo a atenção despertada especialmente pelo livro de Romanos. Através das palavras do apóstolo Paulo – “O justo viverá por fé” (Romanos 1:17) –, Lutero descobriu que de fato não existe como alguém merecer o favor de Deus por alguma coisa que faz; que a única forma de se obter o favor divino é através da fé em Jesus Cristo; e que através da fé em Jesus os pecados são perdoados por Deus. Esse novo entendimento, conhecido como a doutrina da justificação pela fé, tornou-se um dos pilares do pensamento religioso de Lutero.
O desejo de Lutero não era o de fundar uma nova igreja, mas alguns incidentes acabaram por levá-lo ao rompimento com o Catolicismo. O papa reinante na época, Leão X, em razão da necessidade de avultadas somas para terminar as obras do templo de São Pedro, em Roma, permitiu que um enviado, João Tetzel, percorresse a Alemanha vendendo bulas (decretos papais), as quais, dizia ele, possuíam a virtude de conceder perdão de todos os pecados, não só aos possuidores da bula, mas também aos amigos, mortos ou vivos, em cujo nome fossem as bulas compradas. E tudo isso sem a necessidade de confissão, nem absolvição pelo sacerdote. Tetzel fazia essa afirmação ao povo: “Tão depressa o vosso dinheiro caia no cofre, a alma de vossos amigos subirá do purgatório ao Céu.” Nem é preciso dizer que Lutero ficou indignado com isso. E começou a pregar contra o enviado do papa, denunciando seu ensino como falso.
Os historiadores consideram o dia 31 de outubro de 1517 como a data do início da Reforma. Foi na manhã desse dia que Martinho Lutero afixou na porta da Catedral de Wittenberg um pergaminho que continha 95 teses ou declarações, quase todas relacionadas com a venda de indulgências, questionando seriamente a autoridade do papa e do sacerdócio. Os líderes da Igreja procuraram em vão restringir o monge alemão, mas os ataques que lhe dirigiram apenas serviram para tornar mais resoluta sua oposição às doutrinas não apoiadas nas Escrituras Sagradas.
Em pouco tempo, as opiniões de Lutero se tornaram conhecidas em toda a Alemanha, através de debates e da publicação de folhetos. Seus ensinos foram formalmente condenados pela Igreja e, no mês de junho de 1520, Lutero foi excomungado pelo papa.
No dia 10 de dezembro, Martinho Lutero queimou a bula de excomunhão durante uma reunião pública, à porta de Wittemberg, diante de uma assembléia de professores, estudantes e do povo. Esse ato constituiu a renúncia definitiva de Lutero à Igreja Católica Romana.
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