segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Nos passos de Constantino


"Estamos no limiar de grandes e solenes acontecimentos. Muitas das profecias estão prestes a se cumprir em rápida sucessão... Repetir-se-á a história passada. Antigas controvérsias serão revivescidas, e perigos rodearão de todos os lados o povo de Deus... Estudai o Apocalipse em ligação com Daniel; pois a história se repetirá..." Testemunhos para Ministros, p. 116.

A Lei Dominical que em breve será implantada nos EUA e nos demais países de tradição cristã tem seu paralelo histórico na época do imperador Constantino (321 d. C.). No entanto, uma análise mais profunda da história pode revelar a existência de outros paralelos mais entre estes dois momentos históricos.

De acordo com David Ewing Duncan, autor da obra Calendário (Editora Ediouro, p. 87-104), "a nova ordem de Constantino, como a de César três séculos e meio antes, conseguiu pôr selo no calendário, neste caso, ao criar um novo sistema, religiosamente inspirado, de medir o tempo. Constantino fez isto deixando intacto o calendário básico de César de 365 1/4 dias e doze meses, enquanto operava três grandes mudanças dentro desta estrutura: a introdução do domingo como um dia santo em uma nova semana de sete dias; o reconhecimento oficial dos feriados cristãos como o Natal com datas fixas; e o enxerto no calendário da celebração da Páscoa, que não é uma data fixa, sendo condicionada ao calendário lunar judeu em uso quando Cristo foi crucificado...

"A primeira atitude do imperador no sentido de reordenar o calendário veio em um édito divulgado em 321, nove anos depois da batalha da ponte Mílvio, quando ele estabeleceu o domingo como o primeiro dia da semana de sete dias - uma unidade de tempo desconhecida no calendário romano original de calendas, nonas e idos. Segundo o ditado de Constantino, todos os cidadãos que não fossem fazendeiros eram obrigados a se abster de trabalho no dies Solis - o dia do Sol. Ele também ordenou que os tribunais fechassem para litígios e os comandantes do exército restringissem os exercícios militares de forma que os soldados pudessem cultuar o deus de sua escolha. A opção de Constantino pelo domingo não foi sem controvérsia. Ela ostensivamente rejeitava a observância antiga do sábado como o sabá dos judeus... Sábado em uma determinada época era a escolha de muitos cristãos também, já que muitos crentes no início eram judeus que se sentiam obrigados a manter o seu feriao tradicional do sétimo dia da semana judaica. Mas como Jesus foi crucificado no sexto dia da semana judaica e, segundo a Bíblia, ressuscitou no primeiro dia da semana seguinte - um domingo -, aguns líderes cristãos no início decidiram mudar seu sabá para o domingo, e marcar este dia toda semana com um serviço religioso especial que incluísse a Eucaristia...

"Ao colocar o sabá no dia devotado ao Sol no ciclo de sete dias dos deuses-planetas pagãos, o imperador também buscava o favor dos mitraístas e de outros adoradores do Sol...

"A segunda mudança importante do calendário introduzida por Constantino foi em relação a quando celebrar a Páscoa, um assunto não tão fácil de resolver quanto a questão do domingo...

"Para Constantino a questão não era tanto determinar a data exata da Páscoa, mas como conseguir que as várias facções do Cristianismo concordassem em celebrar a ressurreição no mesmo dia, mesmo se tecnicamente esta data não fosse exata. Politicamente isto era crucial para estebelecer uma religião de Estado, com um conjunto de regras... [Nota: Outro ponto em comum com os dias atuais - Leia mais]

"A questão da Páscoa chegou a um apogeu no que é hoje uma tranqüila aldeia turca famosa como retiro à beira de um lago para turcos cansados do caos de Istambul, cerca de 130 quilômetros distante. Conhecida como Iznik, esta aldeia era há 1.700 anos uma cidade helênica próspera chamada Nicéia, grego para 'Vitória'... Foi aqui que em 325 Constantino reuniu o primeiro grande concílio cristão, que fez o primeiro esforço concentrado para resolver o problema da Páscoa e obter uma data unificada para sua celebração...

"O historiador Eusébio, uma testemunha ocular do concílio, escreve sobre a luxuosa festa acontecida em 25 de julho para celebrar o vigésimo aniversário de Constantino como imperador, e o medo hesitante sentido pelos bispos quando passavam pelos guardas nos salões onde aconteceu o banquete e viam 'o cintilar de armas' que até bem recentemente estavam voltadas contra eles. Mas sta transformação do medo em festa naõ era nada comparada à transformação súbita que Constantino realizou em uma igreja que por trezentos anos não teve uma autoridade central. Disperso e por vezes caçado pelas autoridades, o Cristianismo tinha operado menos como uma religião única e coesiva e mais como uma coleção de seitas e denominações seguindo os mesmos dogmas básicos mas diferindo em pontos de maior ou menor importância - como por exemplo em relação à data da celebração da Páscoa...

" O mandato de Constantino em Nicéia era para colocar um fim neste cada-um-por-si através do estabelecimento de um conjunto de regras governadas por uma estrutura centralizada liderada por ele próprio como imperador...

"Constantino chegou a Nicéia em cerca de 19 de junho de 325, e recebeu imediatamente um grosso pacote comtextos que detalhavam as controvérsias pequenas e grandes entre os presentes no concílio. Ele carregou o pacote consigo para o salão de audiências do seu palácio, onde oficialmente inaugurou o concílio vestindo um manto em ouro e jóias como um rei persa. Sentado em trono de ouro em frente aos prelados, ele ouviu os discursos de boas vindas antes de se levantar para responder em latim à maioria dos bispos de língua grega. Através de um tradutor ele deu boas vindas a todos mas imediatamente foi direto ao assunto da razão do concílio, segurando o pacote de textos como um pai repreendendo os filhos. Ele disse: 'Eu, seu camarada servidor, sinto uma dor profunda sempre que a Igreja de Deus está em dissensão, um mal maior do que o mal da guerra'...

"Nenhum dos cânones sobreviventes divulgados pelo concílio menciona o problema da Páscoa diretamente, embora as regras que emergiram de Nicéia sejam bem conhecidas entre os cristãos: que a Páscoa cairá no primeiro domingo depis da primeira Lua cheis depois do equinócio, mas nunca deverá cair no início da Páscoa judaica. O sentimento dos bispos reunidos foi registrado pelo próprio Constantino em uma carta endereçada a bispos e outros líderes de igrejas que não foram ao concílio: 'Pelo julgamento unânime de todos foi decidido que o mais santo festival da Páscoa deve ser celebrado em toda parte no mesmo dia'. Na mesma carta, Constantino assinala que o concílio se opôs à pratica de seguir o calendário judaico para determinar a Páscoa: 'Nós não devemos ter nada em comum com os judeus, porque o Salvador mostrou outro caminho'... [Nota: Este espírito anti-judaico também foi determinante na mudança do sábado para o domingo que persiste até hoje].

"Mas muito mais importante do que a natureza de Cristo ou a data para a Páscoa foi a codificação de Nicéia da fusão de Constantino entre Igreja e Estado, um movimento político expediente da parte deste imperador astuto que ligaria inexoravelmente a Igreja ao poder secular, à riqueza e ao absolutismo por muitos séculos por vir - primeiro como um adjunto da Roma imperial e mais tarde como uma entidade independente que derivava sua influência que tudo englobava de uma hierarquia prória ao estilo imperial e de uma presunção de poder sobre os domínios cristãos." [Nota: Outro paralelo com a atualidade].

Um comentário:

Anônimo disse...

A guarda do Sábado: "Guardarão, pois, o sábado os filhos de Israel, celebrando o sábado nas suas gerações por concerto perpétuo" (Exo 31:16).
A poligamia: "Mas, se desposar (a serva) com seu filho, fará com ela conforme o direito das filhas. Se lhe tomar outra (mulher), não diminuirá o mantimento desta, nem a sua veste, nem a sua obrigação marital" (Exo 21:9-10).