quinta-feira, 5 de junho de 2008

O lugar comum do ministro Celso de Mello


No julgamento sobre o uso de células-tronco de embriões humanos nos laboratórios, o ministro do Supremo, Celso de Mello, afirmou: “Não vamos incidir no mesmo erro que o tribunal do Santo Ofício, que constrangeu Galileu Galilei, que tinha informações cientificamente corretas, mas incompatíveis com a Bíblia.”

Sem entrar no mérito da decisão do julgamento (espero que também não digam que a Bíblia é contra ou a favor do uso de células-tronco...), o ministro Celso de Mello comete um erro histórico e embarca no lugar comum de opor a ciência experimental (fundada por Galileu) à teologia bíblica. Nada mais equivocado.

De fato, a Igreja Católica condenou as teses heliocêntricas de Galileu. Mas o astrônomo, religioso que era, em momento algum foi contra as Escrituras. O que ele contrariou foi o pensamento geocêntrico aristotélico defendido então pelos católicos. Essa é a verdade que o ministro parece desconhecer.

Embora alguns aleguem que pelo fato de a Bíblia se referir ao “pôr-do-sol” ou afirmar que o Sol ficou parado no céu ela seria geocentrista, é bom lembrar que essas narrativas foram feitas do ponto de vista do observador na Terra. E, para ser justo com o relato bíblico (que não é científico), é bom lembrar que mesmo os astrônomos se referem ao pôr-do-sol quando querem mencionar o ocaso do “astro rei”.

O ministro podia ter dito que a Igreja Católica condenou Galileu. Mas não devia ter colocado a Bíblia nessa briga.

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