terça-feira, 3 de junho de 2008

O mago que vendeu a alma


A revista Veja do dia 6/05 publicou uma resenha da biografia do “mago” Paulo Coelho (O Mago, editora Planeta, 632 páginas), escrita pelo jornalista Fernando Morais. Alguns trechos da matéria: “Longe de ser temerária, tamanha exposição íntima atesta a inteligência publicitária do escritor. Paulo Coelho atropelou um menino e fugiu sem prestar socorro? Consumiu drogas? Firmou pacto com o demônio? Sim, a biografia confirma tudo isso. Mas foram meros tropeços no caminho de um homem obstinado na realização de seu sonho: tornar-se famoso como escritor. No fim, o herói converte-se no Guerreiro da Luz, o sábio autor de O Alquimista. Os 100 milhões de livros que o mago vendeu em 160 países redimem (em tese) o passado vil.

“Filho desgarrado de uma família de classe média conservadora do Rio de Janeiro, Coelho foi o típico doidão que a cultura hippie glamourizou na virada dos anos 60 para os 70. A biografia revela suas experiências alucinógenas e sexuais. Ele teve, por exemplo, relações com homens... só para concluir que, no fim das contas, não era homossexual. Mas nem tudo foi colorido nos anos de desbunde. Coelho passou por duas internações psiquiátricas e teve relacionamentos difíceis, beirando o patológico. O mais tumultuado deles foi o romance com a arquiteta Adalgisa Magalhães, a Gisa. Depois de se submeter a um aborto, ela teve uma depressão pesada. Coelho incentivou-a a tentar suicídio – por motivos meio místicos, meio psicanalíticos, achava que essa terapia de choque poderia ajudá-la.

“Paulo Coelho fez muito dinheiro, nos anos 70, como parceiro do roqueiro Raul Seixas. Mas o que ele queria mesmo era fazer fama como escritor. Sua determinação começou a dar frutos com O Diário de um Mago, de 1987, e O Alquimista (até hoje seu maior sucesso, com 40 milhões de exemplares vendidos), do ano seguinte. O estilo pedestre e o misticismo de supermercado desses livros encontraram ressonância no grande público, mas desagradaram aos críticos. ...

“Em uma entrevista à Playboy, em 1992, Coelho gabou-se do tempo em que viveu com duas mulheres em Londres. O biógrafo corrigiu-o: Coelho não dava conta das duas sozinho – havia um segundo homem na animada cama inglesa –, e uma delas mais tarde reclamaria da performance sexual do escritor. Morais só não desacredita Coelho no seu terreno de eleição, o misticismo. Epifanias, assombrações, visões angelicais – a biografia dá crédito a tudo o que é bobagem sobrenatural. Nas páginas que precedem essas aventuras mágicas, porém, Paulo Coelho aparece falsificando a assinatura do próprio pai, plagiando um texto de Carlos Heitor Cony e dando entrevistas sobre um encontro com John Lennon que nunca aconteceu. O leitor que conhece aritmética básica pode levantar a dúvida legítima: as aventuras sobrenaturais do tal ‘mago’ não serão invenções da mesma ordem? Paulo Coelho é um péssimo escritor, mas talvez seja um gênio da ficção.”

A biografia de Morais também apresenta alguns trechos de diários e notas pessoais de Paulo Coelho, como esta, que trata das negociações para um pacto com o demônio, em 1971: “Senti que Você vinha fechando o círculo à minha volta, e sei que Você é mais forte que eu. Você tem mais interesse em comprar minha alma do que eu em vendê-la.”

Nota: Como explicar o fato de um autor – que segundo a crítica é tão ruim – ter conseguido o feito de se tornar o escritor brasileiro mais conhecido? Para Veja, “a biografia dá crédito a tudo o que é bobagem sobrenatural”. Para quem sabe o que acontece nos bastidores do conflito entre o bem e o mal, a história do pacto é uma ótima explicação para o sucesso do “mago”. Com uma história assim tão manchada e um sucesso de origem duvidosa, o homem ainda quer ser o guia espiritual das pessoas...
Se as pessoas ouvissem e lessem mais sobre Deus certamente elas não daria tanto crédito assim a um "mago".

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