sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Europa unida: sim ou não?


Artigo escrito com Português de Portugal


INTRODUÇÃO
7 de Fevereiro de 1992. Na cidade holandesa de Maastricht era assinado o Tratado que ficou conhecido pelo nome dessa cidade, mas também como o Tratado da União Europeia. Iria entrar em vigor a 1 de Novembro de 1993 e, entre outras coisas, iria mudar o nome de Comunidade Económica Europeia (C.E.E.) em União Europeia (U.E.), porque, pela primeira vez, se admitia de forma clara e formal que a Comunidade Europeia seria, doravante, não meramente uma Comunidade de países europeus de carácter económico, mas igualmente uma Comunidade com carácter monetário e até político. O Tratado de Maastricht (que substituía o Tratado de Roma, de 1957) criava, por isso, um calendário bem preciso para a entrada em funcionamento de uma moeda única europeia antes do final da década, do século e do milénio!


Na altura, estando eu em França (durante os meus estudos na Faculdade Adventista de Teologia de Collonges-sous-Salève), tomei conhecimento de que o Governo francês distribuiu gratuitamente, via postal, um panfleto informativo sobre esse Tratado de Maastricht em todos os lares franceses. Lembro-me igualmente de, nessa época, ter ouvido alguns comentários, entre adventistas do 7º dia, alegando que tal União nunca se viria a concretizar e que a moeda única europeia nunca passaria de uma mera intenção! Recordo-me igualmente que, nessa altura, ousei afirmar que acreditava plenamente que viríamos a ter uma moeda única europeia e que a união da Europa seria uma realidade. Passados mais de 16 anos desse Tratado de Maastricht, a moeda única europeia (baptizada de Euro aquando da Cimeira de Madrid, em Dezembro de 1995) é uma realidade incontestável em 15 dos 27 países que constituem actualmente a União Europeia (1).

Os que se mostravam cépticos relativamente à entrada em circulação de uma moeda única europeia e ao aprofundamento político da Europa, tiravam as suas convicções da leitura da profecia de Daniel 2, e particularmente do versículo 43: “Quanto ao que viste do ferro misturado com barro de lodo, misturar-se-ão mediante casamento, mas não se ligarão um ao outro, assim como o ferro não se mistura com o barro.” (negrito acrescentado). Estará esta profecia milenar a falhar, precisamente neste período crucial da História, antes da Segunda Vinda de Cristo, depois de se ter mostrado verdadeira durante séculos? Será que teremos de rever a nossa interpretação tradicional da profecia de Daniel 2? Ou será apenas que alguns, no passado, não conseguiram simplesmente explorar toda a riqueza da profecia de Daniel 2 à luz de outras profecias bíblicas?


A PROFECIA DE DANIEL 2
Antes de mais deixem-me relembrar-vos aquilo que todos sabem a respeito da profecia de Daniel 2: trata-se de uma profecia que cobre um período enorme de tempo, nada mais, nada menos do que um período aproximado (por excesso) de 2500 anos. Por esta mesma razão, facilmente se compreende que a profecia não entra em detalhes minuciosos sobre um qualquer período específico de tempo que faça parte integrante do período global de tempo a que ela se refere. Com isto pretendo apenas dizer que a profecia de Daniel 2 é como uma lente “grande angular” que permite ter uma visão sintética da História nas suas grandes linhas, linhas essas, contudo, que são perfeitamente suficientes para se visualizar um “fio condutor” da História extremamente compreensível. Contudo, Daniel 2 não esgota todos os detalhes proféticos! Se assim não fosse, não seriam necessárias outras profecias (nomeadamente as profecias dos capítulos 7, 8, 9 e 11 do próprio livro de Daniel), que nada mais fazem do que ampliar a “matriz básica” fornecida por Daniel 2! A cena do julgamento no céu, em Daniel 7:9-14 (com a correspondente explicação nos versículos 22, 26 e 27), a purificação do santuário, em Daniel 8:13-14 e 26, em conexão íntima com o julgamento no céu, a profecia das 70 semanas em Daniel 9:24-27 e a especificidade do conflito norte-sul em Daniel 11:5-45, são dados proféticos preciosíssimos que simplesmente não aparecem mencionados em Daniel 2! Contudo, não é menos verdade que estes dados proféticos que acabei de referir não seriam seguramente tão bem compreendidos, pelo menos sob o ponto de vista cronológico, se não fosse a tal “matriz básica” que nos é fornecida por Daniel 2! Resumindo: Daniel 2 é uma profecia extremamente importante, visto nos dar uma imagem do quadro geral de acontecimentos. Contudo, por ser tão sintética não poderia ser, obviamente, muito analítica! Daniel 2 dá-nos uma visão global do tempo – desde os dias de Daniel (“depois disto” – Daniel 2:29) até aos “últimos dias” (Daniel 2:28) – mas não nos dá uma compreensão pormenorizada de nenhum tempo específico, nomeadamente do tempo do fim. Para ficarmos com uma noção mais precisa dos acontecimentos do tempo do fim, a profecia de Daniel 2 é pura e simplesmente insuficiente (2)! Este tem sido, a meu ver, o erro que, talvez de forma ingénua, se tem comummente cometido! E este erro seria simplesmente irrelevante se não fosse responsável por lançar dúvidas sérias na mente de muitos estudantes da profecia bíblica, por verem a incoerência entre o que “está profetizado” e a realidade que está diante dos nossos olhos!


UMA UNIÃO GLOBAL NOS ÚLTIMOS DIAS
Tal como acima referi, assim como os outros capítulos proféticos do livro de Daniel lançam luz adicional sobre a profecia específica de Daniel 2, assim o livro de Apocalipse (livro do mesmo género literário do livro de Daniel) lança luz adicional não só sobre a profecia específica de Daniel 2 mas igualmente, e em particular, sobre os acontecimentos do tempo do fim. Ora é justamente no livro de Apocalipse que encontramos uma outra profecia específica que alarga consideravelmente, e de forma correcta, a nossa compreensão de Daniel 2 e dos acontecimentos do tempo do fim. Trata-se da profecia que está contida em Apocalipse 16:13-14. Passo a transcrever o seu conteúdo: “Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demónios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-poderoso.” (negrito e sublinhado acrescentados). Leram bem? O que é que “espíritos de demónios” farão nos últimos dias (esta passagem aparece no contexto do derramamento das 7 últimas pragas!)? Dirigir-se-ão “aos reis do mundo inteiro” (isto é, aos líderes máximos de todas as nações)! Com que objectivo? “Com o fim de ajuntá-los”! Este “mundo inteiro” aqui referido, certamente que inclui a Europa, ou não acham que assim seja? Se há continente que não deixará seguramente de estar “na mira” dos demónios, esse continente é seguramente a velha Europa “cristã”, onde está sediado o grande poder que dominará o mundo nos últimos dias! Então, segundo esta profecia do livro de Apocalipse, haverá ou não uma tendência crescente para a unificação das nações entre si? Importa igualmente referir que a acção desses “espíritos de demónios” mencionados, que conduz os “reis do mundo inteiro” a uma união global, não acontecerá de um dia para o outro, mas será um processo gradual que atingirá o seu clímax no tempo de “Armagedom” (3).

COMO RECONCILIAR AS DUAS PROFECIAS?
A profecia de Apocalipse 16:13-14, se bem que lance imensa luz sobre os acontecimentos do tempo do fim, não invalida, contudo, nenhum aspecto da profecia de Daniel 2! Parece contraditório o que acabo de referir? Não, não é! Daniel 2 afirma, e devemos acreditar nisso, que “certo é o sonho, e fiel, a sua interpretação” (Dn 2:45). Portanto, se os “reinos” que existirão imediatamente antes que “o Deus do céu [suscite] um reino que não será jamais destruído” (Dn 2:44) “não se ligarão um ao outro” (Dn 2:43), então podemos ter a certeza que assim será! Por outras palavras, esses “reinos” não estarão na verdade ligados na sua essência, ou seja, não haverá uma unidade real e genuína a uni-los, MAS estarão estrategicamente ligados entre si, movidos (talvez alguns deles inconscientemente) pelos tais “espíritos de demónios” que os ajuntarão (4) com o único objectivo de eles poderem apresentar uma frente unida contra o povo de Deus! A crise final pela qual Jesus passou oferece-nos um exemplo perfeito do que acontecerá ao povo de Deus durante a crise final da História deste mundo! Também Jesus enfrentou, Ele próprio, a coligação de forças que nunca estariam coligadas entre si, não fosse a necessidade de Satanás apresentar uma frente unida contra Jesus: “Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-O com desprezo, e, escarnecendo d’Ele, fê-lo vestir de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos. Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro.” (Lucas 23:11-12). Também fariseus e saduceus se coligaram contra Jesus (ver Mateus 16:1), mas isso não significava que se encontravam realmente ligados entre si pois, anos mais tarde, já os encontramos de novo em conflito uns contra os outros (ver Actos 23:6-8).


CONCLUSÃO
Penso que já devem ter visualizado o quadro completo! Teremos, no tempo do fim, uma Europa coligada, mas não verdadeiramente unida entre si! E esta é a realidade que todos nós podemos observar actualmente (5)! Reparem que a profecia de Apocalipse 16:13-14 não afirma que os “espíritos de demónios” “se dirigem” aos povos do mundo inteiro, mas antes aos seus líderes, “aos reis do mundo inteiro”, porque conseguindo um consentimento entre os líderes, os liderados acabam por seguir, mesmo por vezes contrariados, “a reboque” daqueles! A construção da União Europeia está sendo feita, desde o início, não a partir das bases, dos povos, mas sim a partir das cúpulas institucionais político-administrativas! Isto dá-nos a certeza de quem é que está verdadeiramente a trabalhar nos bastidores! Por detrás dos múltiplos acordos que se têm conseguido, e que fazem os políticos europeus parecerem grandes promotores da unidade europeia e da paz, estão – eu sei que não é politicamente correcto afirmar isto, mas é a verdade! – “espíritos de demónios” trabalhando afincadamente para unir estrategicamente todo o mundo, a fim de não deixar, humanamente falando, num futuro próximo, nenhuma possibilidade de escape para aqueles que pretenderem permanecer leais aos “mandamentos de Deus e à fé de Jesus” (Ap 14:12)!


No período histórico que se seguiu à ascensão de Cristo ao céu e ao derramamento das “primeiras …chuvas” (Tiago 5:7) ou “chuva temporã” (Joel 2:23) sobre a Igreja, esta pôde-se expandir facilmente porque o mundo estava quase inteiramente sob o controlo de um poder político-administrativo único – o poder da Roma Imperial. Isso trouxe muitas vantagens, pois não havia fronteiras no interior do Império Romano que a impedissem de se espalhar, as vias de comunicação terrestres e marítimas eram excelentes e, em poucos anos, o Evangelho espalhou-se de tal maneira que Paulo pôde dizer, em Colossenses 1:23, que o Evangelho “foi pregado a toda a criatura debaixo do céu”.


No período histórico que antecederá a vinda d’Aquele que “virá do modo como o vistes subir” (Actos 1:11), e sob o efeito das “últimas chuvas” (Tiago 5:17) ou “chuva …serôdia” (Joel 2:23), também a Igreja remanescente usufruirá de muitas vantagens que lhe permitirão expandir facilmente a sua mensagem evangélica devido ao facto do mundo estar sob o controlo de um poder único – o poder de Roma Papal, apoiado politica e religiosamente pelos EUA (ver Apocalipse 13) – unificação essa que fará com que não haja fronteiras internas e que as vias de comunicação (terrestres, aéreas, electrónicas - TV satélite, Internet e outras) sejam excelentes para permitir que o Evangelho seja pregado “por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim” (Mateus 24:14). Aleluia!


Nada do que está a acontecer, meus queridos irmãos, está fora do controlo d’Aquele que tudo comanda! As profecias bíblicas permitem-nos ter uma visão claríssima dos acontecimentos do tempo do fim! Elas estão realmente a ser, para nós que atendemos à sua mensagem pertinente, “uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em [nossos corações]” (2 Pedro 1:19). Deus seja louvado!


(1) Chipre e Malta foram os dois últimos países a integrarem a Eurolândia (países da UE, cuja moeda é o Euro) no passado dia 1 de Janeiro de 2008. Este foi o segundo alargamento ocorrido desde 1 de Janeiro de 2002, data em que o Euro entrou em circulação nos 12 países que inicialmente adoptaram a moeda única europeia. O primeiro alargamento ocorreu a 1 de Janeiro de 2007 com a entrada da Eslovénia na zona Euro.



(2) A profecia de Daniel 2 pode ser correctamente comparada a um mapa-múndi, ou planisfério, que nos permite ter uma visão global do planeta. Contudo, se bem que tal visão nos permita ficar a conhecer, com rigor, a disposição dos países entre si (no caso de um mapa-múndi político), não nos permite conhecer detalhes muito significativos de cada país. Se quisermos viajar num determinado país, não é seguramente com um mapa-múndi que estaremos bem servidos, mas sim com o correspondente mapa desse país específico!


(3) O Armagedom (ver Apocalipse 16:16), ao contrário do que afirmam a esmagadora maioria dos cristãos evangélicos de hoje (que subscrevem a chamada visão dispensacionalista da História) e afirmaram alguns pensadores adventistas, no passado, não é uma guerra literal que irá ocorrer algures num local do Médio Oriente. Trata-se, isso sim, da última manifestação do Grande Conflito, em que todos os poderes da Terra coligados entre si intentarão lançar um derradeiro e decisivo ataque contra o Povo de Deus!



(4) Talvez se pudesse fazer um estudo etimológico aprofundado destas duas palavras usadas em Daniel 2:43 e Apocalipse 16:14, mas creio que facilmente se intui que “ligar” e “ajuntar” pode não significar necessariamente a mesma coisa! Duas coisas podem estar “juntas” (como o caso do ferro e da argila nos pés da estátua de Daniel 2) sem contudo estarem “ligadas” entre si. Outro exemplo, que é, aliás, referido no próprio texto bíblico de Daniel 2:43: duas pessoas podem estar “juntas” em casamento sem contudo se encontrarem verdadeiramente “ligadas” entre si! Da mesma maneira os “reinos” deste mundo no tempo do fim estarão “congregados” ou “juntos”, mas não necessariamente “ligados”!



(5) Quantas vozes críticas não se têm levantado, dentro dos países que compõem a UE, contra essa mesma UE? Por que é que, quando o povo é consultado – por exemplo nos referendos a favor da “falecida” Constituição Europeia – surgem resultados que deixam os líderes europeus numa posição extremamente embaraçosa, como foi o caso após os chumbos que os povos da França e da Holanda deram à proposta de uma Constituição Europeia? Não admira que agora, de forma bem velada, nenhum político europeu queira que o actual Tratado de Lisboa seja submetido ao voto popular referendário.


Fonte: Nisto Cremos
Autor: Pr. Paulo Cordeiro

2 comentários:

Anônimo disse...
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