terça-feira, 27 de maio de 2008

10 Principais razões que desautorizam a observância dominical

(1) Nenhuma Ordem de Cristo ou dos Apóstolos. Não há mandamento de Cristo ou dos apóstolos concernente a uma celebração semanal ou anual da ressurreição de Cristo. Temos as ordens no Novo Testamento que dizem respeito ao batismo (Mat. 28:19-20), à Ceia do Senhor (Mar. 14:24-25; 1 Cor. 11:23-26) e lavapés (João 13:14-15), mas não há ordenança ou mesmo qualquer sugestão para celebrar a Ressurreição de Cristo num domingo semanal ou num domingo de Páscoa anual.
Sendo que o domingo seria uma “novidade”, um novo princípio de adoração, sobretudo ao substituir uma tradição tão arraigada na cultura nacional e religiosa dos judeus, como o sábado, sem dúvida qualquer alteração nesse sentido daria margem a comentários, explicações, instruções específicas justificando a alteração, sobretudo quando os primeiros conversos à religião cristã eram originários do judaísmo e “zelosos da lei” (Atos 21:20). Nada, porém, consta das páginas neotestamentárias a respeito de tal mudança ou de debates a respeito.
O sábado permaneceu válido e vigente como todos os demais mandamentos do Decálogo após a cruz. Prova disso é o testemunho de Lucas, escrevendo 30 anos após o evento da Ressurreição, que descreve a ação das santas mulheres seguidoras de Cristo preparando ungüentos e especiarias para embalsamar o Seu corpo. Elas trabalharam ativamente nisso até que, ao aproximarem-se as horas do sábado, cessaram suas atividades e “no sábado descansaram segundo o mandamento” (Luc. 23:56).
Para Lucas, portanto, que declara ter buscado informar-se pormenorizadamente de tudo quanto se relacionava com a experiência do Cristo (Luc. 1:1-4), o dia de repouso “segundo o mandamento” era o sábado. Ele se refere ao domingo simplesmente como “o primeiro dia da semana”, sem atribuir-lhe nenhum título especial (ver Luc. 24:1).
O mesmo Lucas relata nos Atos dos Apóstolos como nas decisões do Concílio de Jerusalém de Atos 15, ao ser tratado o problema dos judaizantes, não se traça nenhuma norma contra a observância do sábado (Atos 15:20), uma demonstração de que tal instrução se fazia desnecessária. Todos o observavam regularmente e não havia necessidade de dar instruções a respeito. Paulo num sábado, quando não havia sinagoga em certa localidade, foi para junto de um rio cultuar a Deus (Atos 16:13). Em Corinto passou um ano e meio pregando todos os sábados e jamais se lembrou de dizer aos que ali se reuniam para mudaram o dia de culto para o domingo (Atos 18:1-4, 11).

(2) Jesus Não Fez Qualquer Tentativa de Instituir um Memorial de Sua Ressurreição. Se Jesus desejasse que o dia de Sua ressurreição se tornasse um dia memorial e de culto, Ele teria Se aproveitado daquele evento para estabelecer tal memorial. É importante observar que as instituições divinas como o sábado, batismo, Santa Ceia, todas remontam sua origem a um ato divino que os estabeleceu. Sobre o dia de Sua ressurreição, contudo, Cristo não realizou qualquer ato para instituir um memorial relativo ao excepcional evento.
Pensando bem, tanto a Ressurreição como a Morte de Cristo são eventos igualmente importantes, fundamentais para a fé cristã. Ambos poderiam merecer um dia especial comemorativo. Se a Ressurreição devesse ser celebrada regularmente num dia especial dada a sua importância, por que não a morte do Salvador? Então, temos dois acontecimentos exponenciais para o cristão—a morte e a ressurreição de Cristo. Qual mereceria um dia memorial? Possivelmente ambos, mas as Escrituras não estabelecem isto, nada fica implícito que houve alteração no texto da lei divina por causa de qualquer desses eventos.
Se Jesus desejasse memorializar o dia de Sua ressurreição, muito provavelmente teria dito às mulheres e discípulos naquele dia: “vinde à parte e celebremos Minha Ressurreição!” Em vez disso Ele disse às mulheres: “Ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia” (Mat. 28:10) e aos discípulos: “Ide . . . fazei discípulos . . . batizando-os” (Mat. 28:19). Nenhuma dessas declarações do Salvador ressurreto revela intenção de memorializar Sua Ressurreição por tornar o domingo o novo dia de descanso e culto para a comunidade cristã.
A razão é que nosso Salvador desejava que Seus seguidores vissem o evento como uma realidade existencial a ser experimentada diariamente pelo viver vitorioso mediante o poder de Sua ressurreição, antes que por um celebração litúrgico/religiosa a ser realizada no domingo. Paulo expressa a esperança de “conhecê-lo e o poder de Sua ressurreição” (Fil. 3:10), mas nunca menciona o seu desejo de celebrar a Ressurreição no domingo semanal ou no domingo de Páscoa.

(3) O Domingo Nunca é Chamado de “Dia da Ressurreição”.O domingo nunca é chamado no Novo Testamento de “Dia da Ressurreição”. É repetidamente designado de “primeiro dia da semana”. As referências ao domingo como dia da ressurreição aparecem inicialmente na primeira parte do quarto século, especificamente nos escritos de Eusébio da Cesaréia. Por esse tempo o domingo havia se tornado associado com a Ressurreição e conseqüentemente foi referido como “Dia da Ressurreição”. Mas este fato histórico ocorreu vários séculos após o começo do cristianismo.

(4) O Domingo-Ressurreição Pressupõe Trabalho, Não Repouso ou Adoração. O domingo-Ressurreição pressupõe trabalho, antes que descanso e culto, porque não assinala o término do ministério terreno de Cristo, que findou numa sexta-feira à tarde quando o Salvador declarou: “Está consumado” (João 19:30), e daí descansou na tumba segundo o mandamento. Em vez disso, a Ressurreição assinala o início do novo ministério intercessório de Cristo (Atos 1:8; 2:33), o qual, à semelhança do primeiro dia da criação, pressupõe trabalho, e não descanso.

(5) A Ceia do Senhor Não Foi Celebrada no Domingo em Honra da Ressurreição. Historicamente sabemos que os cristãos não podiam celebrar a Ceia do Senhor numa base regular aos domingos à noite porque tais reuniões eram proibidas pela lei romana da hetariae—uma lei que proibia todos os tipos de refeições comunitárias à noite. O governo romano temia que tais reuniões noturnas se tornassem ocasiões para tramas políticas.
A fim de evitar as batidas da polícia romana, os cristãos alteravam regularmente o tempo e lugar da celebração da Ceia do Senhor. Finalmente, mudaram o serviço sagrado da noite para a manhã. Isso explica por que Paulo é tão específico quanto ao modo de celebrar a Santa Ceia, mas vago quanto à questão do tempo da assembléia. Notem que quatro vezes ele repete a mesma frase: “Quando vos reunis” (1 Cor. 11:18, 20, 33, 34). Esta linguagem deixa implícito tempo indefinido, mais provavelmente porque não havia um dia instituído para a celebração da Santa Ceia.
Se, como alguns eruditos pretendem, a Ceia do Senhor era celebrada no domingo à noite, como parte do culto do Dia do Senhor, Paulo não teria deixado de mencionar o caráter sagrado do tempo em que se reuniam. Isso teria fortalecido o seu apelo para uma atitude de mais reverência durante a participação na Ceia do Senhor. A falha de Paulo em mencionar o “domingo” como o tempo da reunião ou o uso do adjetivo “do Senhor-kuriakê” para caracterizar o dia como “dia do Senhor” (como ele fez com referência à Ceia do Senhor), demonstra que o apóstolo não atribuía qualquer significação religiosa ao domingo.

(6) A Ceia do Senhor Comemora o Sacrifício de Cristo, Não Sua Ressurreição. Muitos cristãos hoje consideram a Santa Ceia como o centro de seu culto dominical em honra à Ressurreição. Mas na igreja apostólica, a Santa Ceia não era celebrada no domingo, como acabamos de ver, e não se relacionava com a Ressurreição. Paulo, por exemplo, que alega transmitir o que “recebeu do Senhor” (1 Cor. 11:23), explicitamente declara que o rito comemorava, não a ressurreição de Cristo, mas Seu sacrifício e Segunda Vinda (“anunciais a morte do Senhor até que Ele venha”—1 Cor. 11:26).
Semelhantemente, a Páscoa, celebrada por muitos cristãos no Domingo de Páscoa, era observada durante os tempos apostólicos, não no domingo para comemorar a Ressurreição, mas segundo a data bíblica de 14 de Nisã, primariamente como um memorial do sofrimento e morte de Cristo. Ao contrário do que muita gente pensa, o Domingo de Páscoa era desconhecido da igreja apostólica. Foi introduzido e promovido pela Igreja de Roma no segundo século a fim de mostrar separação e diferenciação da Páscoa judaica. O resultado foi a bem-conhecida controvérsia sobre a data da Páscoa que finalmente levou o bispo Vítor de Roma a excomungar os cristãos asiáticos (cerca de 191 AD) por recusarem adotar o Domingo de Páscoa. Essas indicações mostram que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana não influenciou a igreja apostólica a adotar o domingo semanal e a Páscoa anual para celebrar tal evento.

(7) A Ressurreição Não é a Razão Dominante Para a Observância do Domingo nos Documentos Mais Antigos.As mais antigas referências explícitas à observância do domingo se encontram nos escritos de Barnabé (cerca de 135 AD ) e Justino Mártir (cerca de 150 AD). Ambos esses autores de fato mencionam a Ressurreição, mas somente como a segunda de duas razões, importante, porém não predominante. A primeira motivação teológica de Barnabé para a guarda do domingo é escatológica, ou seja, o fato de que o domingo é o “oitavo dia” e representaria “o início de outro mundo”. A noção de que o domingo era o “oitavo dia” foi mais tarde abandonada porque não faz sentido falar em “oitavo dia” numa semana de sete dias. A primeira razão de Justino para a assembléia dos cristãos no Dies Solis—o dia do sol, é a inauguração da Criação: “Domingo é o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas em matéria-prima, criou o mundo”. Essas razões foram finalmente abandonadas em favor da Ressurreição que se tornou a razão primária para a observância do domingo.

(8) Nada Indica que no Estabelecimento do Novo Concerto Houve Alteração Nos Termos do Mandamento do Dia de Repouso Bíblico. Nada é dito de que na escrita da lei divina nos corações e mentes dos que aceitam os termos do Novo Concerto (Novo Testamento) dá-se alguma alteração nos termos dessa lei no sentido de que o domingo toma o lugar do sábado (Heb. 8:6-10). Sendo que esta passagem é uma reprodução de Jeremias 31:31-33, quando a promessa de um novo concerto foi feita primeiramente a Israel, em função do cativeiro que defrontava em vista de seu pecado (e uma das razões da punição era exatamente a negligência quanto ao mandamento do sábado—ver Jer. 17:19-27), entende-se que as “Minhas leis” [de Deus] referidas em Hebreus mantêm-se as mesmas, logicamente no que tange a seus aspectos não-prefigurativos.
A parte cerimonial dessa lei cessou na cruz, e os leitores primários da epístola aos hebreus (os cristãos judeus) sabiam disso, pois quando tal epístola foi por eles recebida já sabiam que o véu do Templo se rasgara de alto a baixo, findando o cerimonial que apontava a Cristo e Seu sacrifício. E se pairassem ainda dúvidas a respeito, o próprio teor da epístola resolveria o problema, pois seus capítulos 7-10 definem exatamente o fim dessas cerimônias, enquanto ressaltam que a lei divina é escrita nos corações dos verdadeiros filhos de Deus—em seus aspectos morais e outras normas de caráter ético, higiênico, etc., sem mais as cerimônias prefigurativas (ver também Efé. 2:15).

(9) A Igreja Católica Apresenta-se Como Autora da Mudança do Dia de Repouso do Sábado Para o Domingo. Documentos vários da Igreja Católica dão conta de que foi ela que realizou tal alteração, como se pode exemplificar por algumas declarações oficiais dessa igreja, como consta abaixo:

“Foi a Igreja Católica que, pela autoridade de Jesus Cristo, transferiu este repouso para o domingo em lembrança da ressurreição de nosso Senhor. Assim, a observância do domingo pelos protestantes é uma homenagem que prestam, malgrado seu, à autoridade da Igreja [Católica]”.—Louis Gaston de Ségur, Plain Talk About the Protestantism of To-day [Conversa Franca Sobre o Protestantismo de Hoje] (Boston; Patrick Donahoe, 1868), p. 225.
Também outro documento católico confirma isto:
“P. Como provamos que a Igreja tem poder de ordenar as Festas e Dias Santos?
“R. Pelo ato mesmo de mudar o sábado para o domingo, que é admitido pelos protestantes, e, portanto, contradizem-se por observarem tão estritamente o domingo, enquanto violam a maioria das outras festas ordenadas pela mesma igreja.
“P. Como se prova isto?
“R. Porque por observarem o domingo reconhecem o poder da Igreja para ordenar festas e exigi-las sob pena de transgressão, e por não observarem as demais, igualmente por ela ordenadas, negam de fato o mesmo poder”. — Manual of Christian Doctrine [Manual da Doutrina Cristã], ou Catholic Belief and Practice [Crença e Prática Católicas] (Dublin: M. H. Gill & Son Ltd., 1916) pp. 67, 68.
(10) O Sábado Será Restaurado na Nova Terra Quando o Pecado For Eliminado do Universo. Se tivesse havido alteração nos termos do dia de repouso divino, isso se refletiria em profecias do mundo futuro, quando o profeta declara que “nos novos céus e a nova terra” todos os moradores virão “adorar perante mim diz o Senhor” no dia de sábado. A profecia de Isaías diz respeito especificamente ao regime da Nova Terra, como indica o contexto. Quando não houver mais pecado e pecadores, nesse novo ambiente “em que habita a justiça” (2 Ped. 3:13) TODOS os mandamentos da lei divina serão respeitados, e sendo que “o sábado foi feito por causa do homem” (Mar. 2:27), prosseguirá no regime santo da Nova Terra, não o domingo, o que seria de se esperar caso tivesse havido tal mudança.
A bem conceituada versão francesa de Louis de Segond assim verte a passagem: “. . . à chaque sabbat, toute chair viendra se prosterner devant moi, dit l‘Éternel” [a cada sábado toda carne virá se prostrar perante mim, diz o Eterno]. Isso também é comunicado pela nossa Bíblia na Linguagem de Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil: “. . . em todos os sábados pessoas de todas as nações virão me adorar no Templo”.
CONCLUSÃO: As 10 razões dadas acima são suficientes para desacreditar a alegação de que a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana causou o abandono do sábado e a adoção do domingo. A verdade é que inicialmente a Ressurreição era celebrada existencialmente, antes que liturgicamente, ou seja, por uma maneira vitoriosa de vida, não mediante um dia especial de adoração.
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Obs.: Este artigo é uma adaptação do texto “Sete Principais Razões Que Desautorizam a Observância Dominical”, do Dr. Samuele Bacchiocchi, com adição pelo Prof. Azenilto G. Brito de mais três razões e vários parágrafos adicionais às 7 razões apresentadas no texto original.

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