quarta-feira, 14 de maio de 2008
Desvendando Daniel: o chifre pequeno
Por meio do sonho de Nabucodonosor relatado no capítulo 2, Deus revelou a história dos povos deste mundo até a segunda vinda de Jesus. A compreensão dessa revelação é necessária para entender as profecias dos capítulos 7 a 12 do livro de Daniel. O capítulo 7 relata uma visão que Daniel teve no primeiro ano do rei Belsazar, ou seja, aproximadamente 50 anos depois que Nabucodonosor recebeu o sonho da imagem do capítulo 2.
O capítulo 7 amplia detalhes apresentados no capítulo 2 e ainda oferece elementos novos como as características do poder religioso (chifre pequeno) que decide afrontar a soberania e a autoridade de Deus e o julgamento que ocorre no Céu, antes de volta de Jesus.
O livro de Daniel não possui ordem cronológica. A morte de Belsazar foi descrita no capítulo 5. Se os capítulos do livro de Daniel estivessem colocados em ordem cronológica, o capítulo 7 viria antes do capítulo 5. A razão pela qual os capítulos não estão em ordem cronológica é porque as partes históricas do livro (capítulos 1, 3, 4, 5 e 6) deviam ficar juntas e os capítulos proféticos, numa seção própria.
Daniel 7:1: "No primeiro ano de Belsazar, rei da Babilônia, teve Daniel um sonho e visões ante seus olhos, quando estava no seu leito; escreveu logo o sonho e relatou a suma de todas as coisas."
O primeiro ano de Belsazar, segundo a História, foi 553 a.C.
Daniel 7:2: "Falou Daniel e disse: Eu estava olhando, durante a minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar grande."
Mar – Freqüentemente, a palavra mar é usada na Bíblia para simbolizar povos e nações da Terra (Ap 17:15).
Ventos – São símbolo para guerras e conflitos entre nações (Jr 25:31-33; 49:36, 37). Assim, essa profecia representa guerras e conflitos envolvendo os habitantes da Terra.
Daniel 7:3: "Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar."
Em Daniel 2, quatro metais foram usados para representar os reinos políticos que comandaram a história do mundo. Agora, os mesmos reinos são representados por quatro animais: Babilônia (ouro/leão), Medo-Pérsia (prata/urso), Grécia (bronze/leopardo), Roma (ferro/animal terrível).
Os quatro animais são imagens monstruosas. Nos próximos versículos são apresentadas as características de cada um deles.
Daniel 7:4: "O primeiro era como leão e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, foi levantado da terra e posto em dois pés, como homem; e lhe foi dada mente de homem."
Assim como o ouro é o principal dos metais, o leão é o rei dos animais. As asas de águia simbolizam a rapidez com que o leão realizou suas conquistas. Em poucos anos, Nabucodonosor tornou-se senhor da maior parte do mundo conhecido.
Daniel 7:5: "Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou sobre um dos seus lados; na boca, entre os dentes, trazia três costelas; e lhe diziam: Levanta-te, devora muita carne.
Menos nobre do que o leão, o urso ilustra a deterioração progressiva, que é uma das características da estátua de Daniel 2. O urso se levantou de um lado, o que representa a dualidade das duas raças dominantes: os medos e persas.
O urso tinha três costelas na boca, representando as três nações que os medos e persas tiveram que abater para dominar o mundo: Babilônia, Lídia e Egito.
Daniel 7:6: "Depois disto, continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio."
Quem submeteu e liquidou a Medo-Pérsia? A história confirma: Grécia. E por que a Grécia foi comparada a um leopardo? (Dn 8:21; 11:2). O leopardo é conhecido por sua rapidez e agilidade. Embora menor, o leopardo não tem medo de atacar um leão ou urso.
Deus usou o símbolo de um leopardo com quatro asas para retratar a rápida ascensão de Alexandre, o Grande. Nada na história do mundo pode ser comparado à velocidade com que Alexandre venceu as nações. Em 13 anos, com apenas 30 mil homens, a Grécia conquistou a Pérsia, com 600 mil.
Depois que o império de Alexandre foi tomado, o mesmo foi dividido entre quatro generais: Cassandro, Lisímaco, Ptolomeu e Seleuco, os quatro são simbolizados pelas quatro cabeças do leopardo.
Daniel 7:7: "Depois disto, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres."
O quarto animal era tão diferente dos demais que o profeta não pôde encontrar nada na natureza para descrevê-lo. O Império Romano derrotou a Grécia e, por sua vez, foi dividido em dez partes. Note que os dentes de ferro do animal monstruoso equivalem às pernas de ferro da imagem de Daniel 2. Os pés da imagem de Daniel 2 possuíam dez dedos, o quarto animal tinha dez chifres. Os dez dedos da imagem correspondem às dez divisões de Roma, assim como os dez chifres do quarto animal também representam as nações européias que emergiram do Império Romano. As dez divisões do Império Romano são identificadas na história como: Germanos, Ostrogodos, Visigodos, Francos, Vândalos, Suevos, Burgúndios, Hérulos, Anglo-saxões e Lombardos.
A fase final da visão do capítulo 2 é a queda da pedra que destruiu a imagem, estabelecendo o reino de Cristo. No capítulo 7, acontece algo novo. O profeta fala sobre o mesmo tema do capítulo 2, mas acrescenta novos detalhes à visão. No capítulo 7, há uma ênfase aos acontecimentos que ocorrerão em nossos dias, antes da volta de Cristo (a pedra).
Daniel 7:8: "Estando eu a observar os chifres, eis que entre eles subiu outro pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava com insolência."
Nos últimos dias da história, surgiria o poder chamado de chifre pequeno. Se os dez chifres representam a divisão do Império Romano, o chifre pequeno representa um poder que se levantaria entre esses dez, diante do qual três deles seriam completamente destruídos. As nações exterminadas foram os Hérulos, os Vândalos e os Ostrogodos.
Até este ponto, a História tem seguido fielmente a profecia, como um mapa preciso. Deus falou sobre Babilônia e Medo-Pérsia, mencionou nominalmente o rei Ciro, descreveu a Grécia, falou sobre Alexandre, o Grande, referiu-Se aos quatro generais. Disse que a Grécia também cairia e que Roma governaria o mundo. Revelou as dez divisões do Império Romano, o que realmente aconteceu no período de 351 a 476 d.C.
Daniel 7:9: "Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias Se assentou; Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o Seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente."
Tronos são assentos de reis. Temos aqui a descrição da cena de um julgamento. O Juiz do Universo é descrito como uma pessoa. A expressão "Ancião de Dias" significa que Ele existe desde a eternidade. Sua veste é branca como a neve, indicando Sua pureza e perfeição. Seu cabelo é como a lã pura, significando autoridade patriarcal e sabedoria. Seu trono é de fogo ardente. O fogo purifica, esteriliza e destrói toda corrupção. A pureza de Deus é absoluta. As rodas indicam mobilidade. Deus é onipresente.
Daniel 7:10: "Um rio de fogo manava e saía de diante dEle; milhares de milhares O serviam, e miríades de miríades estavam diante dEle; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros."
Multidões de anjos estão presentes. A julgar pelos símbolos e imagens fornecidos, o julgamento não ocorre na Terra, mas no Céu.
Há um tempo determinado para esse julgamento, quando os livros são abertos. "Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um Varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-O dentre os mortos" (Atos 17:31).
Daniel 7:11: "Então, estive olhando, por causa da voz das insolentes palavras que o chifre proferia; estive olhando e vi que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito e entregue para ser queimado.
Daniel 7:12: "Quanto aos outros animais foi-lhes tirado o domínio; todavia, foi-lhes dada prolongação de vida por um prazo e um tempo."
A atenção de Daniel volta-se do Céu para a Terra. Aqui ele chama a atenção para a destruição final do animal, o qual é atirado às chamas. O Juiz da Terra pronunciou o veredito final.
Daniel 7:13: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do homem, e dirigiu-Se ao Ancião de Dias, e O fizeram chegar até Ele."
Daniel 7:14: "Foi-Lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas O servissem; o Seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o Seu reino jamais será destruído."
Está claro que essa passagem não se refere a um mero ser humano. Trata-se da pessoa de Jesus como nosso Sumo Sacerdote, intercedendo por nós diante do Ancião de Dias, no santuário celestial. Logo, o reino eterno, que não passará e jamais será destruído, Lhe será entregue.
Daniel 7:15: "Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi alarmado dentro de mim, e as visões da minha cabeça me perturbaram."
Daniel 7:16: "Cheguei-me a um dos que estavam perto e lhe pedi a verdade acerca de tudo isto. Assim, ele me disse e me fez saber a interpretação das coisas:"
Daniel queria entender a visão e estava ansioso para saber o futuro do povo de Deus. Então o Senhor providenciou para que ele entendesse:
Daniel 7:17: "Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis que se levantarão da terra."
Aqui está a confirmação de que os quatro animais representam quatro reinos, assim como os quatro metais também os representavam na estátua do sonho de Nabucodonosor.
Daniel 7:18: "Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e o possuirão para todo o sempre, de eternidade em eternidade."
O céu pertence a todos os que crêem em Jesus Cristo e o têm como Salvador e Senhor de sua vida.
Daniel 7:19: "Então, tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro, cujas unhas eram de bronze, que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobejava;"
Daniel não teve dificuldade para entender o significado dos três primeiros animais. Leão, urso e leopardo eram animais conhecidos para ele. Mas o quarto animal era algo que ele nunca tinha visto antes.
Daniel 7:20: "e também a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça e do outro que subiu, diante do qual caíram três, daquele chifre que tinha olhos e uma boca que falava com insolência e parecia mais robusto do que os seus companheiros."
Daniel 7:21: "Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles,"
Daniel 7:22: "até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino."
Daniel 7:23: "Então, ele disse: O quarto animal será um quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços."
Daniel 7:24: "Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis."
Daniel 7:25: "Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo."
A identificação do Chifre Pequeno por suas características específicas:
1. Quando surgiu? Do Império Romano dividido, ou seja, logo depois de 476 d.C. (v. 24). Emerge dentre as dez nações européias.
2. "Será diferente dos primeiros" (v. 24). Não importa o que seja, esse chifre não é igual aos outros, que são apenas poderes políticos. A diferença: seria um poder político-religioso. Objetivo: lançar por terra a verdade de Deus (Dn 8:12).
3. "Proferirá palavras contra o Altíssimo" (v. 25). O que significa isso? Quer dizer colocar a si mesmo na posição de Deus, usurpar a autoridade de Deus. Esse é o mesmo poder que Paulo antecipou "que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus" (2Ts 2:4). Você conhece algum poder religioso surgido do Império Romano que se autodenomine o representante de Deus na Terra?
"O papa é de tão grande dignidade e tão exaltado, que não é um mero homem, mas é como se fosse Deus e o vicário de Deus... De modo que, se fosse possível que os anjos errassem, ou que pudessem pensar de maneira contrária à fé, eles poderiam ser julgados e excomungados pelo papa... O papa é como se fosse Deus na Terra, único soberano dos fiéis a Cristo, o maior rei dos reis, tendo plenitude de poder" (Lucius Ferraris, em sua Prompta Bibliotheca, v. VI, p. 26-29).
4. "Magoará os santos do Altíssimo" (v. 25). Cruzadas, massacres e perseguições de todos os tipos foram usados para tentar compelir a todos a se submeterem a esse poder religioso na Idade Média. Você sabe dizer qual foi o poder religioso que produziu a chamada Inquisição?
"Julgada pelos padrões contemporâneos, a Inquisição, especialmente do modo como ocorreu na Espanha, já no fim da Idade Média, pode ser classificada apenas como sendo um dos capítulos mais tenebrosos na história da igreja" (New Catholic Encyclopedia, arts. "Inquisição").
5. "Cuidará em mudar os tempos e a lei" (v. 25). Você é capaz de identificar o poder religioso que mudou a lei de Deus escrita em Êxodo 20:3-17? Esse poder retirou o segundo mandamento, para permitir a prática da adoração de imagens. E para que, com a extinção do segundo, os mandamentos continuassem a ser dez, houve a divisão do décimo mandamento em dois. Não bastasse, alterou o quarto mandamento, substituindo o sábado pelo domingo.
"O papa pode modificar a lei divina, uma vez que o seu poder não é o de homem, mas de Deus, e ele age em lugar de Deus sobre a Terra..." (Prompta Bibliotheca, 8 vols., art. "Papa, II").
6. "Um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (v. 25). Aqui um tempo equivale a um ano (Dn 11:13). Assim, essa expressão se refere a três anos e meio ou 42 meses. Considerando que em profecia cada dia é contado como um ano (Nm 14:34), temos então o período de 1.260 anos. Esse período da profecia começou a contar a partir do decreto de Justiniamo, em 538 d.C., quando ele investiu o bispo de Roma como o líder de todas as igrejas. Exatamente 1.260 anos após essa data, o general Berthier, a serviço de Napoleão, entrou em Roma, aprisionou o papa Pio VI e o levou para a França, onde viria a morrer em exílio.
Daniel 7:26: "Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim."
Daniel 7:27: "O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o Seu reino será reino eterno, e todos os domínios O servirão e Lhe obedecerão."
Daniel 7:28: "Aqui, terminou o assunto. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me perturbaram, e o meu rosto se empalideceu; mas guardei estas coisas no coração."
Jesus já havia profetizado em Marcos 7:7: "Em vão, porém, Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens." Daniel viu o leão, o urso, o leopardo e o animal terrível; viu os dez chifres e o chifre pequeno. Viu a apostasia, o abandono da verdade em toda a Terra; viu a rebelião contra a lei de Deus. Então ele olhou para o Céu e viu um julgamento. Observou que um pouco antes da vinda de Cristo, haverá um último chamado, um chamado de retorno para a Bíblia, um chamado para a verdade. Um chamado para a obediência à lei de Deus.
(Texto da jornalista Graciela Érika Rodrigues, baseado na palestra do advogado Mauro Braga. O textos anteriores podem ser obtidos no marcador "Daniel")
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