quarta-feira, 14 de maio de 2008

Desvendando Daniel: a restauração da verdade


A visão de Daniel 8 é o clímax das apresentações simbólicas do livro. O contexto histórico mostra que o capítulo está falando do santuário no Céu, onde Cristo agora é o nosso Sumo Sacerdote (Hb 8:1, 2). As questões-chave reveladas aqui não giram ao redor de alguma batalha militar na qual exércitos pagãos profanam o santuário terrestre. O alcance do capítulo vai muito além de qualquer batalha localizada, terrestre, política ou militar. Ao contrário, as questões são espirituais. Este capítulo é uma visão diferente do grande conflito, envolvendo um vasto sistema religioso que se ergueu em oposição à verdade de Cristo.

O interesse principal nesta visão é mostrar – na Terra – a época da restauração da verdade deitada por terra (vs. 10-12), e – no Céu – o início do juízo investigativo (purificação do santuário celestial). As três mensagens angélicas em Apocalipse 14:6 focalizam a restauração da verdade no tempo determinado.

Daniel 8:1: "No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, eu, Daniel, tive uma visão depois daquela que eu tivera a princípio."

Essa visão ocorreu dois anos depois da visão de Daniel 7. Babilônia ainda teria alguns anos de vida antes da sua queda, mas não foi difícil para um homem como Daniel ver que os seus dias estavam contados. Daniel estava idoso e no cativeiro por aproximadamente 55 anos. Sabia que os 70 anos do cativeiro profetizados por Jeremias acabariam em breve, e ele desejava ver a restauração prometida.

A visão que tivera dois anos antes ainda era bem presente em sua mente. Estava bastante ansioso por ver como a nova visão complementava a antiga e que outras impressões receberia.

Daniel 8:2: "Quando a visão me veio, pareceu-me estar eu na cidadela de Susã, que é província de Elão, e vi que estava junto ao rio Ulai."

A passagem não diz se ele estava realmente em Susã ou se foi transportado para lá em visão. Seria o povo desse país que, em pouco tempo, capturaria Babilônia. Ele estava profeticamente sendo levado para o futuro, para a época do Império Medo-Persa.

Daniel 8:3: "Então, levantei os olhos e vi, e eis que, diante do rio, estava um carneiro, o qual tinha dois chifres, e os dois chifres eram altos, mas um, mais alto do que o outro; e o mais alto subiu por último."

Daniel 8:4: "Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte, e para o sul; e nenhum dos animais lhe podia resistir, nem havia quem pudesse livrar-se do seu poder; ele, porém, fazia segundo a sua vontade e, assim, se engrandecia."

Daniel 8:5: "Estando eu observando, eis que um bode vinha do ocidente sobre toda a terra, mas sem tocar no chão; este bode tinha um chifre notável entre os olhos;"

Daniel 8:6: "dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chifres, o qual eu tinha visto diante do rio; e correu contra ele com todo o seu furioso poder."

Nesta profecia, o carneiro e o bode são usados como símbolos. Dois animais que eram usados no ritual do santuário. No santuário hebreu, uma vez ao ano, era realizada uma festa especial, a festa da purificação do santuário. O cordeiro e o bode eram animais usados para um sacrifício especial feito no último dia da festa da purificação do templo, no dia do julgamento.

Quando utiliza o cordeiro e o bode, Deus quer chamar nossa atenção para o fim dos tempos, o juízo final e a purificação do santuário.

A descrição identifica claramente o carneiro como representando o Império Medo-Persa (v. 20). Como Babilônia está em seus últimos dias, já agonizante, ela nem sequer é mencionada nessa profecia. Os dois chifres do carneiro representam os medos e persas. Os medos vieram primeiro, mas os persas tornaram-se os membros dominadores dessa união.

O bode é identificado no verso 21 como sendo o rei da Grécia. Com séculos de antecedência, a profecia identifica a Grécia como o império que subjugaria a Medo-Pérsia. O bode andava sem tocar no chão (ou seja, ele voava), demonstrando a velocidade das conquistas de Alexandre, o Grande.

Daniel 8:7: "Vi-o chegar perto do carneiro, e, enfurecido contra ele, o feriu e lhe quebrou os dois chifres, pois não havia força no carneiro para lhe resistir; e o bode o lançou por terra e o pisou aos pés, e não houve quem pudesse livrar o carneiro do poder dele."

Daniel 8:8: "O bode se engrandeceu sobremaneira; e, na sua força, quebrou-se-lhe o grande chifre, e em seu lugar saíram quatro chifres notáveis, para os quatro ventos do céu."

Essa descrição não deixa dúvida acerca da completa vitória de Alexandre sobre os medo-persas. A Pérsia foi totalmente esmagada.

Daniel 8:9: "De um dos chifres [deles] saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa."

"De um deles" – O texto original hebraico não diz "de um dos chifres", como acontece em nossa versão em português. O original diz "de um deles". Portanto, o chifre pequeno de Daniel 8 deveria surgir de um dos quatro ventos. Ou seja, deveria aparecer em um dos quatro pontos cardeais.

Num estudo superficial das Escrituras Sagradas alguns leitores cometem o equívoco de afirmar que o chifre pequeno de Daniel 8 seria o rei Antíoco Epifânio. Porém, Antíoco Epifânio não atende às especificações proféticas:

1) Chifres se referem a reinos, não a indivíduos.

2) Ele não "cresceu muito", em comparação com o Império Medo-Persa e a Grécia.

3) Ele não destruiu o templo de Jerusalém.

4) Jesus Se referiu à abominação da desolação como algo futuro (Mt 24:15). Antíoco Epifânio morreu quase 200 anos antes de Cristo fazer essa declaração.

Roma pagã atende a todas as especificações:

1) Roma sucede a Grécia em Daniel 2 e 7. É lógico que Roma também devesse seguir à Grécia em Daniel 8.

2) Roma se levantou do oeste, encaixando-se assim na descrição de um poder vindo dos quatro ventos.

3) O Império Romano dominou o Oriente Médio, "para a terra gloriosa" (Dn 8:9).

4) Roma "engrandeceu-se até ao príncipe do exército" (Dn 8:11).

5) Roma tornou em ruínas o lugar do santuário, em 70 d.C., e encerrou permanentemente os sacrifícios que ali eram feitos.

Daniel 8:10: "Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou."

O exército e as estrelas, quando usados num sentido simbólico concernente aos eventos que ocorrem na Terra, são referências ao povo de Deus e seus líderes. No verso 13, veremos como Roma esmagou tanto o santuário como o exército debaixo de seus pés. Muitos cristãos foram sacrificados sob o poder de Roma.

Daniel 8:11: "Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo."

Daniel 8:12: "O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou."

De acordo com a profecia, o sacrifício diário (contínuo) seria tirado. Satanás não conseguiu desfazer o plano da salvação através de Roma pagã pelo meio político (morte de Jesus, destruição do templo, perseguição, etc.). Procurou então outro meio: a religião. Introduzindo um sistema falso de adoração, procurou desviar a atenção do ser humano do verdadeiro e único Mediador (1Tm 2:5).

Esse contínuo Mediador é Jesus. A contínua intercessão de Jesus foi substituída pela intercessão sacerdotal do clero romano. Todas as qualificações e atribuições inerentes a Cristo, o papado passou a atribuir a si mesmo. O sistema de adoração e culto ao verdadeiro Deus através do "contínuo" (Jesus), o intercessor no santuário celestial, foi substituído por um sistema falso de adoração chamado "abominação assoladora" ou "transgressão assoladora".

Roma pagã literalmente destruiu o templo, no ano 70 d.C., acabando para sempre com seus serviços religiosos. A profecia de Jesus de que não ficaria pedra sobre pedra (Mt 24:2) foi cumprida.

Daniel 8:13: “Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?”

Daniel 8:14: “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.”

Daniel ouve dois anjos conversando. Um faz uma pergunta e o outro dá a resposta. A conversa foi registrada em benefício de toda a humanidade.

Até quando a verdade será lançada por terra? Até quando vai durar esse estado de abandono da verdade e imposição de um sistema falso de culto ao verdadeiro Deus?

A resposta do anjo estabelece uma data profética depois da qual esse estado de sacrilégio teria o seu fim. No fim de “duas mil e trezentas tardes e manhãs”, a verdade do evangelho jogada “por terra” por Roma eclesiástica, como enfatiza o versículo 12, seria restaurada e proclamada com toda força, como nos dias dos apóstolos. Sabendo que em linguagem profética um dia equivale a um ano (Ez 4:6; Nm14:34), temos então que após dois mil e trezentos anos o santuário seria purificado.

Naturalmente, Daniel entendia que o termo santuário se referia ao templo de Jerusalém, que havia estado em desolação desde a invasão de Nabucodonosor.

Santuário Terrestre

No santuário hebreu, as ovelhas eram sacrificadas no pátio, sobre o altar dos holocaustos. Cada dia os pecadores iam ao pátio para sacrificar animais. O sangue das vítimas era levado para o Lugar Santo, que é o primeiro compartimento do Santuário. Mas apenas uma vez ao ano o sumo sacerdote entrava no Lugar Santíssimo do Santuário, para realizar um cerimonial muito solene. Ele fazia isso no último dia do ano judaico, chamado Yom Kippur. Esse era um dia muito especial, o Dia da Expiação. O que acontecia no dia da purificação do santuário terrestre está relatado em Levítico 16:29-33. Esse era um dia de julgamento para o povo hebreu, o dia do juízo.

Como antigamente os pecados do povo eram transferidos simbolicamente para o santuário terrestre, mediante o sangue da oferta pelo pecado, assim nossos pecados foram, de fato, transferidos para o santuário celestial, mediante o sangue de Cristo. E como a purificação típica do santuário terrestre se efetuava mediante a remoção dos pecados pelos quais se poluíra, conseqüentemente a purificação do santuário celeste deve ser efetuada pela remoção (ou apagamento) dos pecados que ali estão registrados. Isso necessita um exame dos livros de registro para determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito aos benefícios de Sua expiação.

Assim, assistido por anjos, nosso Sumo Sacerdote entra no Lugar Santíssimo e ali comparece à presença do Ancião de Dias, conforme descrito em Daniel 7:9-14, para realizar a obra do juízo investigativo, que deve ocorrer antes de Sua vinda para resgatar Seu povo.

Quando se encerrar a obra do juízo investigativo, o destino de todos terá sido decidido, ou para a vida ou para a morte eterna. O tempo de graça finaliza pouco antes do aparecimento do Senhor nas nuvens do Céu.

Santuário Celestial

O santuário terrestre não era um fim em si mesmo, mas um símbolo de algo muito maior. Ele foi construído de acordo com um tabernáculo maior (Hb 9:11, 12; Êx 25:8, 9; Hb 8:5; At 7:44). O tabernáculo terrestre foi construído de acordo com um modelo, sendo sombra do celestial. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram tipos do sacrifício maior do novo concerto. Seus sacerdotes eram tipos do nosso Senhor, em Seu mais perfeito sacerdócio. Seu ministério era desempenhado para ser um exemplar e sombra do ministério do nosso Sumo Sacerdote no Céu. O santuário onde eles ministravam era uma imagem do verdadeiro santuário no Céu, onde o nosso Senhor desempenha Seu ministério.

Na ilha de Patmos, João recebeu uma visão por meio da qual lhe foi permitido olhar através dos portões do Céu. Ele viu sete lâmpadas de fogo ardendo diante do trono (Ap 4:5), um altar de incenso e o incensário de ouro (Ap 8:3), e a arca do concerto de Deus (Ap 11:19). Viu não apenas os móveis do santuário; viu o próprio templo.

O Céu pode ser purificado? Hebreus afirma: "Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão. Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que se acham nos céus se purificassem com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles superiores" (Hb 9:22, 23).

Em conexão com as ações do "chifre pequeno", temos o período de 2.300 anos que estipula o prazo para o início da restauração da verdade lançada por terra e a purificação do santuário celestial. Na visão do capítulo 7, Daniel presenciou o juízo a ser realizado lá no Céu, após o período de supremacia de Roma papal. No capítulo 8, é descrito o tempo exato em que esse juízo deveria ocorrer (após os 2.300 anos).

Daniel 8:15: "Havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei entendê-la, e eis que se me apresentou diante uma como aparência de homem."

Daniel 8:16: "E ouvi uma voz de homem de entre as margens do Ulai, a qual gritou e disse: Gabriel, dá a entender a este a visão."

Daniel queria muito entender o real significado da visão e Deus respondeu sua oração ordenando ao anjo Gabriel que a explicasse para ele.

Daniel 8:17: "Veio, pois, para perto donde eu estava; ao chegar ele, fiquei amedrontado e prostrei-me com o rosto em terra; mas ele me disse: Entende, filho do homem, pois esta visão se refere ao tempo do fim."

Daniel 8:18: "Falava ele comigo quando caí sem sentidos, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava;"

Daniel 8:19: "e disse: Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira, porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim."

Foi assegurado a Daniel que a visão era para o tempo do fim. As grandiosas verdades proféticas reveladas ao profeta apontavam para os últimos dias da Terra.

Daniel 8:20: "Aquele carneiro com dois chifres, que viste, são os reis da Média e da Pérsia;"

Daniel 8:21: "mas o bode peludo é o rei da Grécia; o chifre grande entre os olhos é o primeiro rei;"

Daniel 8:22: "o ter sido quebrado, levantando-se quatro em lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão deste povo, mas não com força igual à que ele tinha."

O cumprimento detalhado dessa profecia, escrita enquanto Babilônia ainda era um império florescente, sustenta a afirmação de que a Bíblia foi inspirada por Deus. O Império Medo-Persa e a Grécia constituem apenas a parte preliminar da profecia. Em sua parte principal, essa profecia nos guiará para entender a atuação nociva do poder político-religioso que sucedeu àqueles impérios. E foi exatamente o que aconteceu ao povo de Deus quando foi perseguido pela Roma eclesiástica, o poder que iria "destruir os santos do Altíssimo" (Dn 7:25).

Daniel 8:23: "Mas, no fim do seu reinado, quando os prevaricadores acabarem, levantar-se-á um rei de feroz catadura e especialista em intrigas."

Daniel 8:24: "Grande é o seu poder, mas não por sua própria força; causará estupendas destruições, prosperará e fará o que lhe aprouver; destruirá os poderosos e o povo santo."

Grande é o seu poder – "E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade" (Ap 13:2).

Daniel 8:25: "Por sua astúcia nos seus empreendimentos fará prosperar o engano, no seu coração se engrandecerá e destruirá a muitos que vivem despreocupadamente; levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes, mas será quebrado sem esforço de mãos humanas."

Por sua "astúcia" em promover ardilosos "empreendimentos", faria "prosperar o engano". Esse poder religioso assim se caracteriza por ter lançado a "verdade por terra" (2Ts 2:9-12). A essência da sua doutrina é, pois, o engano. Cristo seria igualmente atingido pelo sacrilégio de Roma papal manifestado na pretensão de ser o Seu representante na Terra. A melhor tradução de anticristo significa "no lugar de Cristo".

"Levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes" – Isso se cumpriu de duas maneiras distintas:

1) Sob o poder romano que o Príncipe dos príncipes foi condenado à morte e crucificado.

2) Por séculos, Roma eclesiástica suprimiu a verdade bíblica, substituiu o plano divino da salvação por um plano falso, e perseguiu os que recusaram submeter-se à sua autoridade.

“Será quebrado sem esforço de mãos humanas” – Essa referência indica que o poder do “chifre pequeno” será destruído pela volta de Jesus. A estátua de Daniel 2 foi destruída por uma pedra cortada “sem mão” (Dn 2:34). Essa Pedra “esmiuçará e consumirá” todos os poderes terrestres.

Falando do futuro do chifre pequeno, Daniel diz: “Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim” (Dn 7:26). Isso ocorrerá ao se encerrar o Dia da Expiação celestial, quando a Terra será tomada dos inimigos de Deus, e os mansos a herdarão (Mt 5:5).

Daniel 8:26: "A visão da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, preserva a visão, porque se refere a dias ainda mui distantes."

Essa é mais uma referência à visão das 2.300 tardes e manhãs (Dn 8:14). O anjo explicou os símbolos da visão para Daniel, mas não disse nada acerca desse período de tempo. Tudo o que ele disse foi que ela apontava para um tempo no futuro distante.

Daniel 8:27: "Eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias; então, me levantei e tratei dos negócios do rei. Espantava-me com a visão, e não havia quem a entendesse."

Daniel teria que esperar por futuras instruções para entender a visão. No próximo capítulo, a data exata do início do julgamento no céu é revelada, assim como a restauração das verdades bíblicas por um povo descrito nas profecias.

(Texto da jornalista Graciela Érika Rodrigues, baseado na palestra do advogado Mauro Braga. O textos anteriores podem ser obtidos no marcador "Daniel")

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