sexta-feira, 6 de junho de 2008

Inferno: Tormento eterno ou aniquilamento?


O inferno é uma doutrina bíblica. Mas que espécie de inferno? Um lugar onde os pecadores impenitentes queimam para sempre e conscientemente sofrem dor num fogo eterno que nunca termina? Ou um julgamento penal pelo qual Deus aniquila pecadores e pecado para sempre?

Tradicionalmente, através dos séculos, as igrejas têm ensinado e pregadores têm proclamado o inferno como tormento eterno. Mas em tempos recentes, raramente ouvimos os sermões de “fogo e enxofre”, mesmo de pregadores fundamentalistas, que podem ainda estar comprometidos com tal crença. Sua hesitação em pregar sobre tormento eterno provavelmente não é devida a uma falta de integridade em proclamar uma verdade impopular, mas a sua aversão de pregar uma doutrina na qual dificilmente crêem. Afinal, como é possível que o Deus, que tanto amou o mundo que enviou Seu Filho unigênito para salvar pecadores, pode também ser um Deus que tortura as pessoas (mesmo o pior dos pecadores) para sempre, indefinidamente? Como pode Deus ser um Deus de amor e justiça e ao mesmo tempo atormentar os pecadores para sempre no fogo do inferno?

Este paradoxo inaceitável tem levado estudiosos de todas as persuasões a re-examinar o ensino bíblico quanto ao inferno e o castigo final.

A questão fundamental é: O fogo do inferno tormenta os perdidos eternamente ou os consome permanentemente? As respostas a esta questão variam. Duas interpretações recentes visando tornar o inferno mais humano merecem uma breve menção.

Opiniões alternativas sobre o inferno

Opinião metafórica do inferno. A interpretação metafórica mantém que o inferno é tormento eterno, mas o sofrimento é mais mental do que físico. O fogo não é literal mas figurativo, e a dor é causada mais por um senso de separação de Deus, do que tormentos físicos.

Billy Graham expressa esta opinião metafórica quando afirma: “Tenho-me perguntado muitas vezes se o inferno não é um fogo queimando dentro de nossos corações por Deus, para comunhão com Deus, um fogo que nunca podemos apagar”. A interpretação de Graham é engenhosa. Infelizmente ela ignora o fato que a descrição bíblica do “queimar” refere não a um queimar dentro do coração, mas a um lugar onde os ímpios são consumidos.

William Crockett também favorece a opiniáo metafórica: “O inferno, então, não devia ser imaginado como um inferno vomitando fogo como a fornalha ardente de Nabucodonosor. O máximo que podemos dizer é que os rebeldes serão expulsos da presença de Deus, sem nenhuma esperança de restauração. Como Adão e Eva serão expulsos, mas desta vez para uma ‘noite eterna’, onde alegria e experança estão para sempre perdidas”.

O problema com esta opinião do inferno é que ela quer substituir tormento físico por angústia mental. Alguns podem duvidar se angústia mental eterna é realmente mais humana do que tormento físico. Mesmo que fosse verdade, a diminuição do grau de dor num inferno não literal não muda substancialmente a natureza do inferno, pois ele ainda permanece um lugar de tormento sem fim. A solução se encontra não em humanizar ou sanear a opinião tradicional sobre o inferno de modo a torná-lo um lugar mais tolerável onde os ímpios passarão a eternidade, mas em compreender a natureza verdadeira do castigo final o qual, como veremos, é aniquilamento permanente e não tormento eterno.

A opinião universalista do inferno. Uma revisão mais radical do inferno tem sido tentada por universalistas que reduzem o inferno a uma condição temporária de castigos graduados que no fim levam ao céu. Os universalistas crêem que Deus afinal terá êxito em levar a todo ser humano à salvação e à vida eterna de modo que ninguém será condenado no julgamento final ao tormento eterno ou ao aniquilamento.

Ninguém negará o apelo que o universalismo tem para a consciência cristã, porque toda pessoa que sentiu o amor de Deus almeja vê-lo salvar a todos. Todavia, nossa apreciação pelo interesse do universalista de defender o triunfo do amor de Deus e para refutar a opinião não bíblica do sofrimento eterno não nos devia cegar ao fato que esta doutrina é uma distorção séria do ensino bíblico. Salvação universal não pode ser correta somente porque sofrimento eterno é errado. O alvo universal do propósito salvífico de Deus não deve ser confundido com o fato que aqueles que rejeitam Sua dádiva de salvação hão de perecer.

Embora as opiniões metafórica e universalista representem tentativas bem intencionadas para abrandar o conceito do sofrimento eterno, deixam de reconhecer os dados bíblicos e conseqüentemente representam mal a doutrina bíblica da punição final dos que não se salvam. A solução razoável dos problemas das opiniões tradicionais se encontra, não diminuindo ou eliminando o grau de dor de um inferno literal, mas em aceitar o inferno tal como ele é: o castigo final e o aniquilamento dos ímpios. Como a Bíblia diz: “O ímpio não existirá” (Salmo 37:10) porque seu “fim é a perdição” (Filipenses 3:19).

O conceito do inferno como aniquilamento

A crença no aniquilamento dos perdidos é baseada em quatro considerações bíblicas: (1) a morte como castigo do pecado; (2) o vocabulário sobre a destruição dos ímpios; (3) as implicações morais do tormento eterno; e (4) as implicações cosmológicas do tormento eterno.

A morte como punição do pecado. O aniquilamento final dos pecadores impenitentes é indicado, em primeiro lugar, pelo princípio bíblico fundamental que o castigo final do pecado é a morte: “A alma que pecar morrerá” (Ezequiel 18:4, 20); “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). A punição do pecado compreende não somente a primeira morte, a qual todos experimentam como resultado do pecado de Adão, mas também o que a Bíblia chama a segunda morte (Apocalipse 20:14; 21:8), que é a morte final e irreversível a ser sofrida pelos pecadores impenitentes. Isso significa que o salário final do pecado não é o tormento eterno, mas morte permanente.

A Bíblia ensina que a morte é a cessação da vida. Não fosse pela segurança da ressurreição (I Coríntios 15:18), a morte que experimentamos seria a terminação de nossa existência. É a ressurreição que converte a morte de ser o fim da vida em ser um sono temporário. Mas não há ressurreição para a segunda morte, porque aqueles que a sofrem são consumidos no “lago de fogo” (Apocalipse 20:14). Este será o aniquilamento final.

O vocabulário bíblico sobre a destruição dos ímpios. A segunda razão compulsiva para crer no aniquilamento dos perdidos no julgamento final é o rico vocabulário de destruição usado na Bíblia para descrever o fim dos ímpios. Segundo Basil Atkinson, o Velho Testamento usa mais de 25 substantivos e verbos para descrever a destruição final dos ímpios.

Diversos salmos descrevem a destruição final dos ímpios com imagens dramáticas (Salmos 1:3-6; 2:9-12; 11:1-7; 34:8-22; 58:6-10; 69:22-28; 145:17, 20). No Salmo 37, por exemplo, lemos que os ímpios logo “murcharão como a verdura” (v. 2); eles “serão desarraiga-dos...e...não existirão” (vv. 9, 10); eles “perecerão...e em fumo se desfarão” (v. 20); os transgressores “serão a uma destruídos” (v. 38). O Salmo 1 contrasta o caminho do justo com o dos ímpios. Dos últimos ele diz que “não subsistirão no juízo” (v. 5); mas serão “como a moinha que o vento espalha” (v. 4); “o caminho dos ímpios perecerá” (v. 6). No Salmo 145, Davi afirma: “O Senhor guarda a todos que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos” (v. 20). Esta amostra de referências sobre a destruição final dos ímpios está em perfeita harmonia com o ensinamento do resto das Escrituras.

Os profetas freqüentemente anunciam a destruição final dos ímpios em conjunção com o dia escatológico do Senhor. Isaías proclama que os “transgressores e os pecadores serão juntamente destruidos, e os que deixarem o Senhor serão consumidos” (Isaías 1:28). Descrições semelhantes se encontram em Sofonias 1:15, 17, 18 e Oséias 13:3.

A última página do Velho Testamento provê um contraste impressionante entre o destino dos crentes e o dos incrédulos. Sobre aqueles que temem o Senhor, “nascerá o sol da justiça e salvação trará debaixo das suas asas” (Malaquias 4:1). Mas para os incréduls o dia do Senhor “os abrasará... de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo” (Malaquias 4:1).

O Novo Testamento segue de perto o Velho ao descrever o fim dos ímpios com palavras e imagens que denotam aniquilamento total. Jesus comparou a destruição total dos ímpios a coisas como o joio atado em molhos para serem queimados (Mateus 13:30, 40), o peixe ruim que é lançado fora (Mateus 13:48), as plantas daninhas que serão arrancadas (Mateus 15:13), a árvore sem fruto que será cortada (Lucas 13:7), os ramos ressequidos que são lançados no fogo (João 15:6), os lavradores infiéis que serão destruídos (Lucas 20:16), os antediluvianos que foram destruídos pelo dilúvio (Lucas 17:27), o povo de Sodoma e Gomorra que foi consumido pelo fogo (Lucas 17:29), e os servos rebeldes que foram mortos à volta de seu Senhor (Lucas 19:27).

Todas estas ilustrações descrevem de modo gráfico a destruição final dos ímpios. O contraste entre o destino dos salvos e o dos perdidos é um de vida versus destruição.

Aqueles que apelam às referências de Cristo ao inferno ou fogo do inferno (gehenna, Mateus 5:22, 29, 30; 18:8, 9; 23:15, 33; Marcos 9:43, 44, 46, 47, 48) para apoiar sua crença num tormento eterno, deixam de reconhecer um ponto importante. Como John Stott assinala: “O fogo mesmo é chamado ‘eterno’ e ‘inextinguível’, mas seria muito estranho se aquilo que nele fosse jogado se demonstrasse indestrutível. Esperaríamos o oposto: seria consumido para sempre, não atormentado para sempre. Segue-se que é o fumo (evidência de que o fogo efetuou seu trabalho) que ‘sobe para todo o sempre’ (Apocalipse 14:11; ver 10:3)”.7 A referência de Cristo a gehenna não indica que o inferno seja um lugar de tormento infindo. O que é eterno ou inextinguível não é o castigo mas o fogo que, como no caso de Sodoma e Gomorra, causa a destruição completa e permanente dos ímpios, uma condição que dura para sempre.

A declaração de Cristo de que os ímpios “‘irão para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna’” (Mateus 25:46) é geralmente considerada como prova do sofrimento eterno e consciente dos ímpios. Esta interpretação ignora a diferença entre punição eterna e o ato de punir eternamente. O termo grego aionios (“eterno”) literalmente significa “aquilo que dura um período”, e freqüentemente refere à permanência do resultado e não à continuação de um processo. Por exemplo, Judas 7 diz que Sodoma e Gomorra sofreram “a pena do fogo eterno”. É evidente que o fogo que destruiu as duas cidades é eterno, não por causa de sua duração mas por causa de seus resultados permanentes.

Outro exemplo se encontra em II Tessalonicenses 1:9, onde Paulo, falando daqueles que rejeitam o evangelho, diz: “Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder. É evidente que a destruição dos ímpios não pode ser eterna em sua duração, porque é difícil imaginar um processo de destruição eterno e inconclusivo. Destruição pressupõe aniquilamento. A destruição dos ímpios é eterna, não porque o processo de destruição continua para sempre, mas porque os resultados são permanentes.

A linguagem de destruição é inescapável no livro do Apocalipse. Lá ele representa a maneira de Deus vencer a oposição do mal a Si mesmo e a Seu povo. João descreve com ilustrações vívidas o lançamento do diabo, da besta, do falso profeta, da morte, de Hades e de todos os ímpios no lago de fogo que é a “a segunda morte” (Apocalipse 21:8; cf. 20:14; 2:11; 20:6).

Os judeus freqüentemente usavam a frase “segunda morte” para descrever a morte final e irreversível. Exemplos numerosos podem ser achados no Targum, a tradução e interpretação em aramaico do Velho Testamento. Por exemplo, o Targum sobre Isaías 65:6 diz: “Seu castigo será em Gehenna onde o fogo arde todo o dia. Eis, está escrito diante de mim: ‘Não lhes darei descanso durante [sua] vida mas lhes darei o castigo de sua transgressão e entregarei seus corpos à segunda morte’”.

Para os salvos, a ressurreição marca o galardão de outra vida mais elevada, mas para os perdidos marca a retribuição de uma segunda morte que é final. Como não há mais morte para os remidos (Apocalipse 21:4), assim não há mais vida para os perdidos (Apocalipse 21:8). A “segunda morte”, então, é a morte final e irreversível. Interpretar a frase de outro modo, como um tormento eterno e consciente ou separação de Deus, nega o significado bíblico da morte como uma cessação de vida.

As implicações morais do tormento eterno. Uma terceira razão para crer no aniquilamento final dos perdidos e a implicação moral inaceitável da doutrina do tormento eterno. A noção de que Deus deliberadamente tortura pecadores através dos séculos sem fim da eternidade é totalmente incompatível com a revelação bíblica de Deus como amor infinito. Um Deus que inflige tortura infinda a Suas criaturas, não importa quão pecadoras foram, não pode ser o Pai de amor que Jesus Cristo nos revelou.

Tem Deus duas faces? É Ele infinitamente misericordioso de um lado e insaciavelmente cruel de outro? Pode Ele amar os pecadores de tal modo que enviou Seu Filho para salvá-los, e ao mesmo tempo odiar os pecadores impenitentes tanto que os submete a um tormento cruel sem fim? Podemos legitimamente louvar a Deus por Sua bondade, se Ele atormenta os pecadores através dos séculos da eternidade? A intuição moral que Deus plantou em nossa consciência não pode aceitar a crueldade de uma divindade que sujeita pecadores a tormento infindo. A justiça divina não poderia jamais exigir a penalidade infinita de dor eterna por causa de pecados finitos.

Além disso, tormento eterno e consciente é contrário ao conceito bíblico de justiça porque tal castigo criaria uma desproporção séria entre os pecados cometidos durante uma vida e o castigo resultante durando por toda a eternidade. Como John Stott pergunta: “Não haveria, então, uma desproporção séria entre pecados conscientemente cometidos no tempo e tormento conscientemente sofrido através da eternidade? Não minimizo a gravidade da pecado como rebelião contra Deus nosso Criador, mas qüestiono se `tormento eterno consciente’ é compatível com a revelação bíblica da justiça divina”.
As implicações cosmológicas do tormento eterno. Uma razão final para crer no aniquilamento dos perdidos é que tormento eterno pressupõe um dualismo cósmico eterno. Céu e inferno, felicidade e dor, bem e mal continuariam a existir para sempre lado a lado. É impossível reconciliar esta opinião com a visão profética da nova terra na qual não mais “haverá morte, nem pranto, nem clamor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4). Como poderiam pranto e dor serem esquecidos se a agonia e angústia dos perdidos fossem aspectos permanentes da nova ordem? A presença de incontáveis milhões sofrendo para sempre tormento excruciante, mesmo se fosse bem longe do arraial dos santos, serviria apenas para destruir a paz e a felicidade do novo mundo. A nova criação resultaria defeituosa desde o primeiro dia, visto que os pecadores permaneceriam como uma realidade eterna no universo de Deus.

O propósito do plano da salvação é desarraigar definitivamente a presença de pecado e pecadores deste mundo. Somente se os pecadores, Satanás e os diabos são afinal consumidos no lago de fogo e extintos na segunda morte que verdadeiramente poderemos dizer que a missão redentora de Cristo foi concluída. Tormento eterno lançaria uma sombra permanente sobre a nova criação.

Nossa geração precisa desesperadamente aprender o temor de Deus, e esta é uma razão para pregar o juízo final e castigo. Precisamos advertir as pessoas que aqueles que rejeitam os princípios de vida de Cristo e a provisão de salvação experimentarão afinal um julgamento terrível e “padecerão eterna perdição” (II Tessalonicenses 1:9). Precisamos proclamar as grandes alternativas entre vida eterna e destruição permanente. A recuperação do ponto de vista bíblico do juízo final pode soltar a língua dos pregadores, porque podem pregar esta doutrina vital sem receio de retratar a Deus como um monstro.

Texto de Samuele Bacchiocchi

4 comentários:

Anônimo disse...

DEUS é amor,mas é justiça também ele dá a oportunidade de uma vida eterna, privilegiados são aqueles que agarram essa oportunidade,pois,"MUITOS SÃO CHAMADOS E POUCOS ESCOLHIDOS"."haverá choro e ranger de dentes",diz a BIBLIA.

Anônimo disse...

DEUS é AMOR,mas é JUSTIÇA também ele dá a oportunidade de uma vida eterna, privilegiados são aqueles que agarram essa oportunidade,pois,"MUITOS SÃO CHAMADOS E POUCOS ESCOLHIDOS"."haverá choro e ranger de dentes",diz a BIBLIA.

Anônimo disse...

É revigorante achar um texto tão embasado como esse. Sempre me acusam de herege quando comento que não creio em castigo eterno, mas num castigo finito e justo. Penso que cada um receberá o seu juízo e no fim será aniquilado. Mas de forma alguma permanecerá em tormento eterno. Reconheço que é difícil discernir as passagens metafóricas e literais da Bíblia, mas basta usar o bom senso em alguns casos. Se Deus é justiça não pode punir eternamente os pecados de uma vida curta. Basta colocar o dedo no fogo por um segundo para perceber que isso não pode ser literal. Para esclarecer: As palavras "ETERNO" e "PARA SEMPRE" usadas na Bíblia são traduzidas do grego "aion" ou " aionions". O último é um adjetivo derivado do primeiro. Estes termos não significam necessariamente "sem fim". Podem denotar um período de tempo limitado. Definição de "aion" pelos lexicólogos: "Um espaço ou período de tempo, especialmente o período de uma vida, longo espaço de tempo, uma geração, eternidade. No plural, "eis tous aionas ton aionon" por séculos do séculos, uma era, um século, um longo período de tempo, duração indefinida." A palavra hebraica correspondente a "aion" é "holam", a qual, segundo os lexicólogos,também denota um período de tempo curto ou longo, finito ou infinito.

l3andro disse...

leia mateus capitulo 25 do versiculo 31 até 46 e vera que o tormento eterno existe sim!!!!